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O PACTO DO FUTEBOL! Uma Reflexão Cristã.

O 'pacto' que a diretoria do Club Athletico Paranaense buscou fazer com a torcida para livrar o time do rebaixamento nesse campeonato brasileiro de 2024 foi marcado por uma campanha mística estranha. Utilizaram a atmosfera da antiga Baixada do 'caldeirão do diabo', através de um movimento de marketing intenso, sendo algo que tomou forma através de imagens e afirmações fortes beirando a realidade do ocultismo. Não há dúvida que essa proximidade com a realidade maligna de nosso cosmos, demonstra um grande desrespeito dos dirigentes para com o Clube e seus torcedores, além de revelar uma ignorância espiritual dos idealizadores da campanha, embora também possa demonstrar uma pretensa crença de alguns deles, infelizmente. Mas, de que forma os torcedores cristãos do Athletico e os cidadãos brasileiros que carregam consigo valores judaico-cristãos podem avaliar essa campanha de marketing com elementos místicos ao redor de um evento cultural como o futebol, a paixão maior dos brasileiros? Sigamos, então, para uma breve reflexão cristã inicial sobre esse 'Pacto místico do futebol', observando a orientação dos capítulos 8 e 9 da 1° carta do Apóstolo Paulo aos coríntios, que traz um conteúdo adequado ao tema das 'vivências culturais' dos cristãos. Como introdução geral, o apóstolo Paulo apresenta no livro de Atos, cap. 17, versos 22 a 31, o modo em que uma cidade envolta numa cultura idólatra deve ser considerada uma comunidade em que o Deus Todo-poderoso atua soberanamente, conforme o destaque de John Stott: "o que mais impressiona é a abrangência da mensagem de Paulo. Ele proclamou Deus em sua plenitude, como Criador, Sustentador, Soberano, Pai e Juiz." (p. 334, 2007). O apóstolo Paulo anotou essa análise surpreendente do agir de Deus naquela cultura a partir de princípios que vieram a nortear seu ensino para a Igreja dos coríntios, como lemos a seguir: "Então, o que dizer quanto ao alimento oferecido a ídolos? Bem, todos nós sabemos que, na verdade, o ídolo nada vale neste mundo, e que há somente um Deus... Para nós... Há somente um Deus, o Pai, de quem vieram todas as coisas criadas e para quem vivemos. E há somente um Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem todas as coisas foram criadas e por meio de quem recebemos vida." (1° Coríntios 8.4-6). A conclusão de Paulo sobre essa 'proximidade' cristã diante de atividades culturais idólatras é de que até a 'íntima' experiência de comer alimentos dedicados a ídolos não gera uma 'aliança' com ídolos, sendo uma atitude que nada produz aos cristãos diante de Deus nesse aspecto de associação religiosa, seja positiva ou negativamente. Isto porque, os ídolos, deuses e divindades representados nestas 'experiências místicas' e culturais não existem, sendo este o motivo para Paulo declarar que alianças ou pactos espirituais de seres humanos para com eles não podem ser estabelecidos nestes termos. Nesse sentido, qualquer atividade assim denominada como um 'pacto' místico ou espiritual que possa ter sido pretensamente promovido pelos dirigentes esportivos não é capaz de produzir 'laços' em um relacionamento existencial, já que existe somente um Deus capacitado a se relacionar assim com os seres humanos; que é o Pai do nosso Senhor Jesus Cristo. De modo que, este ensino bíblico nega que existam pactos e alianças reais entre seres humanos e qualquer outro 'ser' ou entidade nestas circunstâncias, já que esse tipo de pacto é uma experiência relacional não prevista nas Escrituras bíblicas. Tá entendendo? Dessa forma, o Athletico não foi nem rebaixado por causa desse pacto, como a sua permanência também não seria garantida na série A em razão desse pacto. Pois 'esse' tipo de pacto é irreal e inexistente na realidade cosmológica de nosso mundo, que é um planeta criado e governado pelo Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, esse 'pacto' é algo incapaz de realizar transformações nos eventos de nossa cultura, como trazer vitórias ou promover derrotas, sendo que esse tipo de entendimento é uma superstição e engano, afinal, como afirmou Martinho Lutero, "o Diabo é o diabo de Deus", vindo daí a definição bíblica de que nosso problema com o Maligno não são as alianças e pactos, mas sim, as nossas próprias 'tentações' - e por isso Jesus de Nazaré foi tentado 40 dias no deserto, enquanto que o Apóstolo Tiago esclareceu que os cristãos devem, sim, se submeter perante Deus, resistindo dessa forma ao diabo de modo que ele fugirá de nós, pois aquele que assim se humilhar em dependência a Deus, será exaltado. (capítulo 4. 7-10). Nessa perspectiva, e no decorrer do capítulo 8 e em todo o cap. 9 da 1° carta aos coríntios, o apóstolo Paulo explica a importância dos cristãos ficarem atentos ao modo como irão se aproximar desses 'eventos' culturais pretensa ou declaradamente místicos: "contudo, tenham cuidado para que sua liberdade não leve outros de consciência mais fraca a tropeçar... e quando vocês pecam contra outros irmãos, incentivando-os a fazer algo que eles consideram errado, pecam contra Cristo." (cap. 8, 9-12). Assim, a mais básica consequência espiritual negativa de um cristão participar de uma experiência cultural 'denominada' como mística ou idólatra surgirá do mau exemplo e testemunho ruins dados por ele na situação, que poderão ocasionar dificuldades para outros irmãos na fé. Nesse sentido, é possível refletir que, ao saber da gravidade do modo em que os dirigentes esportivos procuraram promover esse 'pacto' místico maligno do Athletico contra a queda para a série B, sim, um cristão entendido das Escrituras deveria ter o cuidado de não prejudicar outros irmãos, e assim, poderia tomar a atitude de não ir a estes jogos de futebol, em que o tal pacto foi um tema dominante. E agora que já tratamos desse infeliz 'Pacto místico' do futebol, em que o Club Athletico Paranaense acabou envolvido, vamos então, refletir como cristãos sobre o mais abrangente e influente "Pacto do Futebol" existente, no qual todas as torcidas e clubes do mundo estão envolvidos. Sendo que este pacto e as suas paixões devem se tornar, sim, uma preocupação mais ampla dos cristãos diante da cultura. Nesse contexto, o capítulo 10 da 1° carta de Paulo aos coríntios é valioso em seu conteúdo, orientando algo que deve ser motivo de meditação e reflexão dos cristãos sobre o tema de como iremos vivenciar 'experiências culturais' em nossa vida neste mundo. O texto do capítulo 10 traz expressões que carregam consigo três perspectivas da realidade do povo de Deus na história: - o momento em que o povo judeu vivia diante de Deus como uma comunidade religiosa-social; - o momento em que esse povo se relacionava com Deus embasado na antiga aliança, mais física, exterior e regional do que espiritual, interior e mundial; e, - o momento em que o povo de Deus da Nova Aliança em Jesus Cristo deve saber o que é importante para que vivam religiosa e socialmente de modo saúdavel junto da humanidade e com Deus nestes dias da história. Dá uma olhada: "Na nuvem e no mar, todos foram batizados como seguidores de Moisés... No entanto, Deus não se agradou da maioria deles, e seus corpos ficaram espalhados pelo deserto. Tais coisas aconteceram como advertência para nós, a fim de que não cobiçemos o que é mau, como eles cobiçaram, nem adoremos ídolos, como alguns deles adoraram. Segundo as Escrituras, "todos comeram e beberam e se entregaram à farra". E não devemos praticar a imoralidade sexual, como alguns deles praticaram... Também não devemos pôr Cristo à prova, como alguns puseram... E não se queixem como alguns deles se queixaram... Essas coisas que aconteceram a eles nos servem como exemplo... Portanto, se vocês pensam que estão de pé, cuidem para que não caiam." (cap. 10, versos 2-12). Observe que essas atitudes desobedientes a Deus e geradoras de uma caminhada de fé fraca e débil origina exatamente das 'paixões humanas'. Sendo algo que podemos semear e desenvolver gravemente quando nos relacionamos com os eventos culturais de nossa sociedade - portanto, esse é o aspecto anotado pelo apóstolo Paulo acerca do perigo desses eventos 'culturais', sobre os quais devemos estar atentos para refletir. Pois é a amizade dos cristãos com o 'mundo' que os faz se tornarem inimigos de Deus, sendo algo que surge daquele interesse e desejo graves nascidos da cobiça dos olhos, dos instintos físicos e da vaidade; como anotado pelo Apóstolo João em sua primeira carta. Vontades humanas comuns que fazem com que as pessoas se agarrem com tanta paixão a certas vivências culturais, que nos farão dedicar-nos a essas atividades de modo exagerado. Sendo algo que vai gerar a nossa desobediência de alguns mandamentos de Deus enquanto estivermos vivenciando as emoções e experiências desses eventos. Surge daí o potencial perigo do 'Pacto do Futebol' de muitos brasileiros, pois essa vivência esportiva se torna uma experiência 'apaixonante' oriunda de nossa participação exagerada nestes eventos 'culturais, até se tornar algo que poderá nos afastar bastante de Deus e do próximo. Dessa forma, a cada dia da semana em que o nosso interesse mental, emocional e presencial se torna uma 'paixão' esportiva dilacerante capaz de impedir que participemos de momentos importantes de familiares e amigos, e acima disso, fazendo com que nos tornemos inimigos de outros seres humanos, bem, eis o modo em que os eventos culturais se tornam oportunidades de tentação espiritual para nos afastar do Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, de modo comum e costumeiro. Enquanto isso ocorre, também é possível que venhamos a desobedecer vários mandamentos de Deus, sendo algo percebível na atitude de muitos torcedores nos estádios brasileiros - e bastante na nossa Ligga Arena rubro-negra, quando os torcedores de um time consideram os jogadores, árbitros e torcedores de outros times como inimigos mortais, que devem receber todo tipo de ira e ameaças, xingamentos e desejos malditos. Uma experiência cultural altamente bárbara! Após dar essa explicação no contexto da participação dos cristãos em eventos culturais e sobre os motivos que nos fazem fracassar na fé, o apóstolo Paulo conclue a sua orientação retornando aos princípios e valores já explicados anteriormente, como segue: "Tudo é permitido", mas nem tudo convém. "Tudo é permitido", mas nem tudo traz benefícios. Não se preocupem com seu próprio bem, mas com o bem dos outros... Portanto, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam para a glória de Deus... Não faço apenas o que é melhor para mim; faço o que é melhor para os outros, a fim de que muitos sejam salvos." (cap. 10, versos 23 a 33). Observe que, na perspectiva de como os cristãos deverão se envolver em eventos culturais e participar de experiências de lazer e artes, esportes e trabalho, estudo e política etc neste mundo - então, fazer algo para a glória de Deus é levar em conta a maneira como um cristão novo na fé irá ser influenciado a partir do nosso exemplo, sendo algo válido para o modo como iremos nos relacionar com outras pessoas, também. Essa é a maior preocupação de Paulo! Numa perspectiva mais ampla e existencial, é fundamental entender que as tentações malignas movidas por demônios ocorrem para nos tornar egoístas e desobedientes diante de Deus, a partir também, das paixões que orientam as vivências e práticas exageradas que temos em eventos culturais. Sendo necessário avaliar o quanto tais vivências poderão ser experiências espirituais negativas, e capazes de atrapalhar a nossa caminhada como discípulos de Jesus. Portanto, aumente o tempo e a sinceridade de suas orações e diminua sua dependência das paixões, sem deixar de vivenciar eventos culturais saudáveis e necessários, até aprender a discernir o quão importantes eles devem ser para você, sejam de trabalho ou lazer. Porque de Deus não se zomba e com o diabo não se brinca. Sabendo que muitos eventos culturais tem a sua importância devida assim que o cristão observar o valor dado por Deus para cada um deles, e especialmente, avaliando a moralidade que carregam consigo, pois sem santidade ninguém verá o Senhor. Feliz Natal! Referências. STOTT, John. a Bíblia toda o ano todo. tradução Jorge Camargo. Viçosa, MG, editora Ultimato, 2007. autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor de ciências da religião e teologia, Igreja Presbiteriana do Brasil.

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