Esse texto tem objetivo didático de orientação para a disciplina Apologética do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. O texto contém resumos e citações longas, devendo ser utilizado somente como apoio do estudo da disciplina. Professor Ivan Santos Rüppell Jr, 2025.
ITEM 1. APOLOGÉTICA. A IMPORTÂNCIA DO PÚBLICO. "Apologética para judeus: o discurso de Pedro no Pentecostes (At 2). Apologética para gregos: o sermão de Paulo em Atenas (At 17). Apologética para romanos: os discursos de cunho legal de Paulo (At 24-26). Apologética e públicos: questões gerais - questões específicas." (Mcgrath, sumário, 2013). Posto que o Evangelho deve ser comunicado com eficácia, a apologética se preocupa tanto com a "análise teológica da proclamação cristã", como igualmente, "com a aplicação imaginativa e criativa de seus elementos constituintes a diferentes públicos." Neste sentido, percebemos o modo em que o Novo Testamento apresenta "argumentos apologéticos e estilos de interação" voltados para "públicos específicos, com o objetivo de facilitar a interação com eles." Observe o modo em que Paulo utiliza o tema familiar e social da "adoção" para anunciar aspectos da Redenção teológica cristã, no entanto, tal situação não era comum para o judaísmo, e sim, bastante evidente na sociedade greco-romana; sendo um argumento usado nas cartas aos romanos, efésios e gálatas. Deve-se anotar que a maioria das cartas do NT foi escrita para cristãos, porém, "dois livros do Novo Testamento partem do presssuposto de que seu público seja constituído por descrentes interessados na fé: os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos." (Mcgrath, p 56-57, 2013). As narrativas e argumentos dos Evangelhos apresentam o encontro de Jesus com pessoas e povos descrentes, enquanto que o livro de Atos apresenta situações diversas em que o Apóstolo Paulo e Pedro desenvolveram declarações de base apologética. (*observe que a série The Chosen traz seu foco na realidade social, familiar e pessoal dos que estiveram diante de Jesus nas narrativas históricas dadas nos Evangelhos). "As primeiras estratégias apologéticas registradas no livro de Atos oferecem insights importantes de métodos apologéticos autênticos encontrados na Bíblia, além de sugerir táticas de interação com grupos específicos de grande importância para o desenvolvimento da igreja primitiva." (Mcgrath, p. 57, 2013). Apologética para judeus: o discurso de Pedro no Pentecostes (At 2). "É evidente que uma das questões fundamentais dizia respeito à identidade de Jesus, sobretudo sua posição em referência ao povo de Israel." Análise de Atos 2.14-40. Descrição dos acontecimentos, 14-21; Descrição da exaltação de Jesus conforme profecias, 22-28; Exaltação de Jesus à luz da teologia, 29-36; Convite ao arrependimento e salvação, 37-40. "O primeiro assunto a observar aqui é a forma em que a apologética de Pedro está diretamente relacionada com os temas que eram importantes e compreensíveis para o público judeu." Observe que, "a apologética histórica é vulnerável. Ela detalha fatos; o evangelho se preocupa com a intepretação dos fatos", pois não apenas propõe a evidência dos acontecimentos, mas se dedica ao sentido e valor existencial do que está sendo narrado. Assim, "na verdade, pode-se dizer que é o significado neles percebido que confere duração histórica aos fatos." (Mcgrath, p 59, 2013). "Apologética para gregos: o sermão de Paulo em Atenas (At 17). (...) De acordo com Lucas, Paulo começa seu discurso aos atenienses com a introdução gradual do tema do Deus vivo, permitindo assim que a curiosidade religiosa e filosófica dos atenienses desse forma à sua exposição teológica. O apóstolo apela ao "sentido de divindade" presente em todas as pessoas como ponto de contato com a fé cristã. (...) Aquilo que os gregos consideravam impossivel de saber, porque talvez fosse incognoscível, Paulo diz que se tornou conhecido pela ressurreição de Cristo. O apóstolo estabelece uma relação com o mundo experiencial e cognitivo de seu público, mas sem comprometer a integridade da fé cristã." (Mcgrath, p. 62, 2013). "Apologética para romanos: os discursos de Paulo de cunho legal (At 24-26). A convivência dos cristãos diante dos romanos trazia um aspecto de conflito bastante grave, devido ao culto ao imperador, que dentre outros aspectos, buscava manter a ordem social em todas as regiões conquistadas e administradas por Roma. Neste contexto, participar de cultos cristãos podia ser considerada uma experiência de rebeldia e agressão política, sendo que "Paulo foi acusado exatamente desse tipo de sublevação em dado momento de sua carreira", conforme Atos 24.1-8. Ao responder ao que fora acusado, Paulo desenvolve uma defesa legal (apologia em grego) que irá se tornar um fundamento das declarações da apologética. Os capítulos 24 a 26 do livro de Atos trazem as declarações de Paulo neste propósito, sendo que o modelo e padrão de seus argumentos e a situação em que são desenvolvidos representam com exatidão a realidade das reuniões oficiais dos tribunais romanos do primeiro século. O que importa aos apologetas não é tanto o resultado das declarações dadas por Paulo, mas sim, anotar o modo em que "Paulo sabia de que maneira os tribunais romanos avaliavam as provas, e isso lhe permitiu trabalhar em conformidade com o protocolo do sistema." Ao saber o contexto social e legal em que precisava manifestar sua fé e defender sua atitude, o Apóstolo Paulo "usa com muita eficácia as "regras de engajamento" do sistema legal romano. Ele entende a importância de certos argumentos aos olhos daqueles que tomariam as decisões que selariam seu futuro." Outro aspecto que causava problemas era a ignorância e má interpretação acerca dos conteúdos e ética da fé cristã, sendo que Paulo aproveitou a oportunidade para dar esclarecimento às autoridades sobre os valores e doutrina cristãos. Neste sentido, "para Paulo, defende melhor a fé cristã quem a explica." (Mcgrath, p. 64-66, 2013).
ITEM 2. FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA APOLOGÉTICA. 1 Pedro 3.15-16.
"A apologética cristã (que nada tem a ver com "apologia" no sentido de pedir desculpas) busca servir a Deus e à igreja, ajudando os crentes a levar a cabo a ordem de 1 Pedro 3. 15-16. Poderemos defini-la como a disciplina que ensina os cristãos a dar uma razão para sua esperança." (Frame, p. 12, 2010).
Apologética. Três aspectos. "1. Apologética como prova: apresentando uma base racional para a fé ou "provando que o cristianismo é verdadeiro". Jesus e discípulos davam evidências da veracidade do evangelho, como em João 14.11, 20.24-31, 1 Coríntios 15.1-11. Sendo que as próprias dúvidas dos cristãos serão tratadas pela apologética, num confronto aos que creem e que não creem. "2. Apologética como defesa: respondendo às objeções dos descrentes." O ministério de Paulo se movia na "defesa e confirmação do evangelho" (Fp 1.7, v. 16). A confirmação trata de respostas de esclarecimento argumentativo dadas às questões levantadas na igreja ou possíveis dúvidas na mente dos ouvintes, sendo um estilo e método de argumentação de Paulo em Romanos e Jesus no evangelho de João. "3. Apologética como ofensiva: atacando a estultícia (Sl 14.1, 1 Co 1.18-2.16) do pensamento descrente." Nesse entendimento, a comunicação do conteúdo cristão atua tanto para responder questões e tratar dúvidas, como para "atacar a falsidade", conf. 2 Coríntios 10.4-5, posto que o pensamento cristão é a verdade que deverá ser revelada. Há uma intercomunicação entre esses três tipos de apologética, de forma que a palavra dada a partir de um princípio trará valores dos outros, sendo três pontos de vista que se completam. "Para fornecer uma explanação completa da razão da crença (n. 1), a pessoa terá de justificar o raciocínio contra as objeções (n. 2) e as alternativas (n. 3) colocadas pelos descrentes", de forma que as três colocações se incluem e equivalem. Porém, é importante saber qual princípio norteia a nossa comunicação, posto que cada situação requer conteúdos e temas próprios para atender às dúvidas e enganos de sua questão. "Assim, em termos de apologética, será quase sempre útil indagar se um argumento tipo 1 poderá ser melhorado com alguma argumentação suplementar do tipo 2 ou 3 ou ambos." (Frame, p. 13-14, 2010).
REFERÊNCIAS.
FRAME, James W Sire. Breve cartilha de apologética. Edit Cultura Cristã, São Paulo, 2023. MCGRATH, Alister. Apologética pura & simples. Vida Nova, São Paulo, 2013. RÜPPELL Jr, Ivan e TURETTI, Marli. O Cristianismo e a civilização ocidental. Editora Intersaberes, 2020, Curitiba PR. GOHEEN E BARTHOLOMEW, Introdução à cosmovisão cristã. Vida Nova. São Paulo, 2016.
C. S. Lewis escreveu o livro de ficção teológica 'Cartas do Inferno' para apresentar a Batalha Espiritual pelas almas da humanidade no cotidiano comum de todos nós. Como bem esclarece o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios, "nós não lutamos contra inimigos de carne e sangue, mas com governantes e autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de trevas e contra espíritos malignos nas esferas celestiais." (cap. 6, 12). Essa realidade da existência transcendente dos seres humanos surge no primeiro anúncio bíblico do Evangelho de Jesus, o Messias, quando Deus fala para a serpente as seguintes palavras: "Farei que haja inimizade entre você e a mulher, e entre a sua descendência e o descendente dela. Ele lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis, 3.15). O site da produtora traz a seguinte sinopse ao filme "Oficina do Diabo", que se baseia no livro de Lewis: "O demônio Fausto subiu do inferno para ajudar Nata...
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