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Network. DA INSENSIBILIDADE DAS REDES SOCIAIS, no Cinema.

O antigo filme 'Network' (Rede de Intrigas, 1976) consegue apresentar alguns temas relacionados ao modo como os seres humanos tem sido - e serão cada vez mais, afetados pelo mais influente espaço relacional existente hoje: as Redes Sociais! Um tema importante do roteiro trata do modo como a experiência televisiva do espectador influência o desenvolvimento da personalidade, destacando o desgaste relacional entre as pessoas, assim que a fuga para o ambiente da TV se torna um projeto de vida dos seres humanos. 'Network' tem um elenco fabuloso, com William Holden e Faye Dunaway, Peter Finch e Robert Duvall, e tornou-se um filme atemporal ao integrar os dramas humanos da era clássica de Hollywood junto do realismo que o cinema norte-americano dos anos 1970 trouxe para a sétima arte daquele país. A direção do talentoso Sidney Lumet fornece uma condução verossímil para um enredo imaginativo, que retrata o ambiente criativo da administração central e da produção de uma grande rede de TV dos EUA, no período de ouro desse meio de comunicação. Um foco dramático das relações entre os personagens revela de modo surpreendente a insensibilidade e egoismo gerados no ser humano a partir de ecos do tema do 'entretenimento virtual' atual, que tem consumido o espírito das pessoas. A narrativa apresenta esse aspecto doloroso da experiência humana mediante as relações profissionais dos personagens, especialmente no romance dos protagonistas Holden (Max) e Dunaway (Diana). Observe esse diálogo: (Max) - "Não sou um cara discutindo menopausa... Sou o homem que você presumivelmente ama. Sou parte de sua vida. Vivo aqui. Sou de verdade! Não pode mudar de canal." (Diana) - "Bem... e o que exatamente você quer que eu faça?" (Max) - "Só quero que me ame. Só quero que me ame, com dúvidas primárias e tudo. Você entende isso, não é?" (Diana) - "Não sei como fazer isso." Vinte anos mais tarde, o excelente Diretor de cinema, Peter Weir, produziu 'O Show de Truman' (1998), com Jim Carrey e Laura Liney. Este segundo filme aborda igualmente a temática da influência da TV no cotidiano das pessoas. Ao apresentar uma novela cujo protagonista tem 'a vida real' transmitida 24h por câmeras ao país inteiro, o drama apresenta a ilusão dos espectadores que buscam 'vida' nas histórias do personagem, e a solidão de um homem que vive uma história que, na verdade, não é sua. A experiência de solidão do protagonista espelha a própria sensação dos espectadores, enquanto que a ilusão dos espectadores é também a experiência existencial do protagonista, Truman (Jim Carrey). Cada um em sua perspectiva, ambos os filmes demonstram a complexa influência da TV (antes) e Redes Sociais (hoje), como meios de comunicação que se tornaram em fontes de relacionamento para a humanidade. Revela como as pessoas tem utilizado essas experiências como uma fuga da realidade - do mundo e de si mesmas. Algo percebível quando as pessoas se entregam à uma busca contínua de assuntos nas redes sociais, que se torna um ‘locus’ relacional para gastar tempo e preencher o coração da gente. Como ensina a sabedoria bíblica, se trabalhar somente para conquistar bens e ainda, buscar conhecimento somente para se encher de conteúdos já foram definidos como 'vaidade das vaidades'; imagina, então, abraçar toda a informação do mundo virtual como se fora uma experiência de vida real, em si mesma. Nesse contexto, o enredo de Network aborda as consequências do escapismo pessoal praticado pelos seres humanos, quando se dedicam a manter relacionamentos com aparelhos 'informativos' de entretenimento virtual. Isto tem produzido uma realidade cotidiana que não gera comunicação e nem proximidade entre as pessoas. Algo que as faz vivenciarem o tempo da existência de uma forma cada vez mais solitária, devido a investirem na frieza insensivel do distanciamento impessoal das redes sociais. Afinal, só é possível construir relações vivenciais através do compartilhar das informações reais da vida da personalidade. Em encontros capazes de gerar uma comunhão de interesses mútuos, vindo a criar oportunidades pra edificar relacionamentos verdadeiros entre as pessoas - tanto na amizade e coleguismo, em namoros e casamentos, no trabalho e família. Esse tipo de encontro real e físico, sensível e intelectual, espiritual e integral foi a proposta do Apóstolo João para a humanidade, ao esclarecer o motivo existencial para que Deus se tornasse um Ser humano em Jesus de Nazaré - sendo que o propósito de tudo é para que Deus Pai, Filho e Espírito Santo vivam em 'comunhão' junto aos homens, e vice-versa: "Aquele que é a vida nos foi revelado, e nós o vimos. Agora testemunhamos e lhes proclamamos que ele é a vida eterna. Anunciamos aquilo que nós mesmos vimos e ouvimos, para que tenham comunhão conosco. E nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Escrevemos estas coisas para que vocês participem plenamente da nossa alegria." (1 carta de João, cap. 1, versos, 2-4). Nesse contexto bíblico, a palavra comunhão (do grego, koinonia) indica a experiência de compartilhar lugares e momentos, sensações e bens - uma expressão que define o tipo de relacionamento religioso capaz de aproximar tanto a Pessoa de Deus das pessoas humanas, sendo também, o tipo de relacionamento apropriado para aproximar os seres humanos uns dos outros. Pois a existência humana relacional é estabelecida socialmente na experiência física do encontro e localizada na troca dos olhares dos sentimentos e nas palavras plenas dos pensamentos, até que a situação de uma pessoa se torna um momento em comum com outra. Voltando ao filme e nosso dilema da frieza relacional oriunda das redes sociais, vemos na cena final do casal protagonista um diálogo que apresenta aspectos certeiros do que já se percebia de grave sobre as relações humanas na década de 70, devido ao modo como as pessoas dedicavam a essência de suas sensações ao entretenimento dos programas de TV. (Max) - "Se ficar com você, serei destruído... Como tudo que você e a instituição da televisão toca é destruído. Você é a televisão encarnada, Diana. Indiferente ao sofrimento... insensível à alegria. Toda a vida foi reduzida ao entulho comum da banalidade. Guerra, assassinato, morte... para você significam o mesmo que garrafas de cerveja. E o negócio diário da vida é uma comédia corrupta. Você até destrói as sensações de tempo e espaço em segundos e replays instantâneos. Você é loucura, Diana. Loucura virulenta. E tudo que você toca morre com você. Mas eu não. Não enquanto eu sentir prazer... e dor... e amor." O diretor, o roteirista e os atores de 'Network' não tinham o menor conhecimento das Redes Sociais atuais e do modo como cada Ser humano pode se tornar hoje uma 'TV' em si mesmo, a partir de seu celular. Porém, este diálogo final do casal traduz muito do perigo que todos vivenciamos na atualidade. Especialmente os mais jovens, que não tiveram a oportunidade de experimentar aspectos de vida física relacional em suas histórias, para poder contrapor isto diante da atual vida virtual. A orientação final do modo em que a vida relacional comunitária de Deus com os homens e dos seres humanos entre si podem se tornar uma nova realidade no mundo surge na declaração que é a própria oposição ao individualismo insensível, sendo o resumo do Evangelho cristão e suas bênçãos, conforme esclareceu o Apóstolo João (1 carta, cap. 3, versos, 23-24): "E este é seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amemos uns aos outros, conforme ele nos ordenou. Aqueles que obedecem a seus mandamentos permanecem nele, e ele permanece neles." Bom filme! autor. Ivan S Rüppell Jr é professor de ciências da religião, tendo publicado o livro 'Resenhas espirituais de meditações cinematográficas', em 2020, editora dialética. REF. Stott, John. A bíblia toda o ano todo. trad Jorge Camargo, Viçosa MG : Ultimato, 2007. (p. 308)

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