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SÓ a ESPIRITUALIDADE conduz da Paixão ao AMOR

Cresci assistindo na TV cenas de cinema que demonstravam o ardor do amor eterno entre um homem e uma mulher. Hoje mesmo revi um destes romances cinematográficos maravilhosos: "O Céu pode esperar", com Warren Beatty e Julie Christie, de 1978. A cena final é uma obra prima das paixões eternas, pois o casal se reencontra, mesmo já não sabendo bem quem são, e Julie lembra da "voz" de seu amado. A partir disso parte com ele para a vida eterna... que no filme inicia em um campo de futebol, onde os dois caminham juntos para viverem felizes pra sempre. E quem não iria querer viver algo assim após assistir alguns destes belos filmes de romance, não é mesmo? Pois é, eu também. Então, uma boa maneira de falar de amores eternos e paixões além da vida é utilizar palavras símbolo, como, por exemplo, "alma gêmea". E daí, surge a pergunta que antigamente se fazia: "Você já encontrou sua alma gêmea?". Como fui desde jovem um idealista romântico e sonhador, carreguei sempre comigo a frase na mente, e também no coração. Até que chegou na minha alma, o que me transformou em um romântico "espiritual" existencial, que é o quê estou pensando por aqui. Enfim, eis o início da questão: quando encontramos nossa alma gêmea, a paixão é eterna? Bom, para os cristãos, o amor eterno espiritual que nasce da alma e chega no coração até alcançar o corpo inteiro do cidadão é uma paixão, sim, só que pela pessoa de Deus. Isso mesmo! Não, não estou falando de freiras ou padres, que são só pessoas obedecendo as interessantes orientações de seus sacerdócios religiosos. Falo de todas as pessoas, em todos os tempos e lugares, e de suas iguais e constantes buscas pela paixão eterna da existência de todos nós. Busca que nasce da mais profunda e real pessoa que somos - lá do nosso espírito. O negócio é que "paixão eterna" e "alma gêmea" trazem a ideia de um relacionamento completo, daqueles em que a gente precisa - e deseja, a pessoa junto conosco 24 horas por dia. E até mais tempo, se for possível. Os bons inícios de namoro são assim mesmo, mas, tomara Deus, espero que isso mude logo. Se não, bem, não vai dar certo. Por que? Porque ninguém é Deus pra estar sempre com alguém e pra ser tudo pra ele. Simples assim. Uma constatação quase obvia, mas que parece escapar aos apaixonados; exatamente porque apaixonados estão. De qualquer modo, não é possível e nem saudável que sejamos apenas dois no mundo, pois há muitas conversas e refeições, muitos passeios e atividades, muitos pensamentos e necessidades, muitas afeições e também dores, e muito mais até - tudo pra ser vivido com muito mais gente que apenas só mais um conosco. E o interessante, ou trágico de tudo isso é que ao querer viver tudo com uma só pessoa, não se consegue viver bem o que se deve viver somente junto com ela. Neste negócio de alma gêmea e na ideia de um homem ser tudo para uma mulher, e vice versa, bem, "quem tudo quer, tudo perde!". É como as coisas são. Algo que já não ocorre com os espirituais que se relacionam com Deus, segundo o Rei Davi (aquele que lutou com Golias). Só lembrando que os espirituais que se relacionam com Deus precisam ser "espirituais" mesmo, pois Deus é espírito, e aí, só espiritualmente pra encontra-lo. Embora pra viver junto com Deus a gente vá ter que usar o corpo inteiro, claro. Mas, enfim, Davi percebeu que só Deus pode participar de tudo que vivemos - em todos os momentos e lugares, sem com isso nos impedir de viver junto das muitas pessoas da nossa história. Deus pode ser a tal paixão eterna, então. Foi o que Davi descobriu e por isso escreveu uma canção, o Salmo 16. Veja alguns de seus versos: "Digo ao Eterno: Sem ti, nada faz sentido."; "Tu foste minha primeira e única escolha, ó Eterno. E, agora, descubro que sou tua escolha!"; "Noite e dia, portanto, ficarei com o Eterno. Tenho uma coisa boa em meu poder e não vou deixa-lo escapar."; "Estou feliz por dentro e, por fora, firmemente formado."; "Desde que me seguraste pela mão, estou no caminho certo." É isso, eis a canção de amor eterno de Davi pra Deus. Uma das boas razões do festejado Rei de Israel ser considerado um homem segundo o coração de Deus. Quanta paixão existencial, não é mesmo? Portanto, parece que o vazio interior que nos faz procurar alguém para ser próximo e constante conosco, em todos os lugares e momentos da vida; foi algo que Davi resolveu quando encontrou... Deus. O bom dessa história é que quando Deus é aquele que vai ter que ser "Deus" pra nós, então as pessoas da nossa vida já não precisam mais ser. E aí podemos aprender a ama-las, com paciência e compreensão, esperança e gratidão, perseverança e perdão na caminhada que será, sim, um relacionamento verdadeiro pra nós - mas não o único. Pois algo único e total não é amor, mas paixão, que mais vicia e engana, submete e oprime, do que o contrário; que é o jeito do amor viver. Parece que somente encontrando algo parecido com o que o Rei Davi descobriu, é que iremos nos livrar do estigma e engodo da "alma gêmea" dos humanos. A partir daí seremos livres pra viver histórias completas uns com os outros, pois serão do jeito e maneira que devem ser, e somente assim, finalmente, "serão"! Parece pouco, mas é muito. Pois é a verdade da nossa existência relacional. Eis o modo como as relações humanas ficam cada vez melhores e mais verdadeiras. É preciso deixar Deus ser "Deus", e assim nós seremos apenas pessoas, e cada vez mais, umas das outras. Por que não?

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