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BONHOEFFER, o Temor a Deus, no Cinema, 2024.

Os gritos do púlpito jamais serão tão ouvidos como os sussurros nas ruas! Essa frase carrega alguns dos valores cristãos do Pastor e Teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, que buscou levar para a vida cidadã a teologia da igreja. Nessa perspectiva, ele assumiu atitudes controversas para enfrentar o avanço nazista nas décadas de 1930 e 40, até ser preso por traição na Alemanha em 1945, após se associar a um grupo que buscou assassinar Hitler. O drama histórico recém lançado nos cinemas, 'A Redenção: a História real de Bonhoeffer', é uma história excepcional com uma produção requintada para um filme tecnicamente irregular . O destaque inicial fica para a decisão do diretor e roteirista Todd Komarnicki, de propor cenas importantes sobre as atitudes tomadas por Bonhoeffer em confronto ao totalitarismo sanguinário de Hitler e da Alemanha nazista. Situações que revelam a ética e valores incomuns e surpreendentes do teólogo alemão - se comparadas ao conteúdo normalmente defendido por pensadores cristãos contemporâneos no ambiente politico e social. De modo que, nesse aspecto essencial para se conhecer a personalidade de Bonhoeffer, o filme se torna uma reflexão valiosa aos espectadores do século 21. Vindo daí o tema da espiritualidade do filme, pois é o Temor ao Senhor Jesus que conduz Bonhoeffer a assumir a ética de buscar agir do modo como ele entende que 'deve viver diante de Deus'! Sendo essa uma decisão que, quando abraçada com coragem como o foi por Bonhoeffer, conduz o cristão a uma vida de discipulado profundo e sacrificial, diante das realidades cruas e complexas da existência humana. O diretor Komarnicki falha ao investir no emocionalismo e na grandiloquência de sons e imagens para dramatizar a realidade maligna histórica do nazismo; algo em que não é feliz, pois o silêncio e simplicidade são a melhor comunicação do horror verdadeiro. Falta também ao enredo, um bom número de citações expressas e mais amplas das proposições de Bonhoeffer acerca da Fé viva e do Discipulado real que devem conduzir o cristão, posto que seus pensamentos são reflexões únicas na história da teologia cristã - ainda que as declarações do teólogo no filme surjam de seus livros, 'Discipulado' e 'Vida em Comunhão'. Nesse aspecto, uma outra biografia do teólogo no cinema, 'Bonhoeffer, o agente da graça' (2000), embora seja uma produção mais simples e com um número menor de cenas históricas, alcança o objetivo de comunicar tanto o pensamento teológico como a trajetória singular do pastor, numa narrativa cinematográfica envolvente e dinâmica. Ainda, o manifesto final após o fim do filme, em contrariedade ao avanço atual do preconceito aos judeus - repetindo o que fora importante no filme 'O Som da Liberdade'; desta vez, não foi adequado. Em meio a valiosos acertos e alguns erros inadequados, vale a pena assistir o filme, pois a história de Bonhoeffer é uma biografia cristã excepcional, que apresenta uma reflexão necessária sobre a essencial espiritualidade do Temor ao Senhor Jesus! No caso do teólogo alemão, durante a sua trajetória única de discipulado cristão - em que sua visão pacifista foi confrontada pelo terror da opressão política e assassinatos sociais do nazismo; Bonhoeffer refletiu pensamentos valorosos sobre um cristianismo ancorado gravemente na Pessoa de Jesus Cristo. Bonhoeffer entendia que a 'religião' (doutrina e instituição) do Cristianismo não deveria superar a Personalidade de Jesus de Nazaré, de modo que os sentimentos e atitudes do Cristo deveriam orientar mais profundamente a vida dos fiéis cristãos - do que as necessidades administrativas da igreja. O entendimento de que o Cristianismo se fundamenta num relacionamento pessoal do cristão com Jesus, o qual vai gerar uma resposta íntima do fiel no cumprimento da vontade e mandamentos de Deus no cotidiano real de todos nós - se torna, então, o princípio que conduziu o coraçao de Bonhoeffer diante de Deus. A verdade é que a Espiritualidade do Temor ao Senhor é uma experiência essencial e também desafiante. No caso de Bonhoeffer, sua confiança de que 'existia' agora no Amor de Deus, e sua decisão de obedecer fielmente ao Senhor o levaram a abraçar a máxima instrução do Apóstolo Tiago aos humildes na fé: "Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando." (Tiago 4.17). Assim como Bonhoeffer, houveram diversos homens e mulheres de fé cristã cidadã na história, que se tornaram igualmente impactantes em suas épocas. Cada um deles semeou o Reino de Deus, com suas relevantes histórias espirituais de Temor ao Senhor Jesus! Bom filme. autor. Ivan Santos Ruppell Jr é professor de teologia e ciências da religião, tendo publicado o livro, 'Resenhas espirituais de Meditações cinematográficas', editora Dialética, 2020.

Comentários

  1. Bonhoeffer era incrível, né? A mim, parece uma daquelas pessoas exemplares. Parafraseando meu tio, e Paulo, e a Bíblia (rs): "ser seguidor de Bonhoeffer como Bonhoeffer é de Cristo"... enfim. Ainda não vi o filme ainda, mas fiquei querendo vê-lo...

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