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AS IGREJAS REFORMADAS e A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL.

A história da Igreja Presbiteriana do Brasil tem suas origens como instituição eclesial a partir da ocorrência da Reforma Protestante, no século 16. Martinho Lutero foi o líder na Alemanha a partir especialmente de 1517, enquanto que poucos anos depois, Ulrico Zuinglio começou a liderar uma reforma institucional e moral da igreja em Zurique na Suíça, ocasião em que o movimento assumiu o título de Segunda Reforma ou Reforma Suíça. As igrejas oriundas desse segundo movimento vieram a carregar consigo o título de “Igrejas Reformadas”, num desenvolvimento que percorreu as regiões da Suíça e França, Holanda e Hungria, Romênia e ainda, outras regiões da Europa. Nesse contexto, “o termo reformado é um termo abrangente que inclui todo um modo de encarar a vida a partir de uma série de pressupostos, dentre os quais se destaca a soberania de Deus.” (Matos e Nascimento, p. 9, 2007). O francês João Calvino surgiu como nova liderança exponencial do movimento da Reforma Protestante a partir da década de 1530, vindo a desenvolver nas “Institutas da Religião Cristã”, as doutrinas reformadas abrangentes sobre toda vida e cosmos a partir da fé bíblica. "Ele trata de frente o principal ponto fraco do protestantismo até aquele momento: o problema das múltiplas interpretações da Bíblia. Como é possível afirmar que a Bíblia tem alguma autoridade quando ela está tão claramente à mercê de seus intérpretes? Calvino apresenta suas Institutas como um guia autorizado da correta interpretação da Escritura. (...) Calvino estabeleceu as credenciais de sua interpretação da Bíblia, não por meio da afirmação de sua autoridade ou sabedoria pessoal, mas pelo engajamento cuidadoso com as passagens bíblicas e com o bom conhecimento das formas como essas passagens foram interpretadas pelos respeitados escritores cristãos antigos, como Agostinho de Hipona." (McGrath, p. 97, 2012). Calvino foi residir na cidade de Genebra, localidade que se tornou um ambiente de estudo e preparo teológico para líderes e pastores protestantes de toda Europa. "A crescente influência de Calvino levou Genebra a se tornar o epicentro do mundo reformado durante a segunda fase do desenvolvimento do protestantismo, sendo que no início da década de 1530, a influência política passou gradualmente de Zurique para Berna, cidade mais poderosa, antes de mudar definitivamente para Genebra na década de 1550". O termo "reformado" tornou-se gradualmente o preferido para a forma de protestantismo que surgiu desse cadinho de ideias - em parte para enfatizar o compromisso do movimento de "reformar-se de acordo com a Palavra de Deus" e, em parte, para distingui-lo de uma percepção rival de protestantismo, agora, cada vez mais conhecido como "luteranismo"." (p. 99, 2012). Dentro desse contexto, num momento de organização do pensamento protestante e do agravamento de conflitos religiosos, a partir do Reino Unido tivemos os pregadores protestantes Patrick Hamilton e George Wishart sendo mortos na fogueira na Escócia, após perseguição religiosa entre as décadas de 1520 a 40. Neste período, o líder religioso escocês John Knox foi capturado pelos franceses, que foram reagir aos partidários de Wishart, situação em que Knox foi escravizado por 19 anos num navio. Após se libertar e passar pela Inglaterra, e dali fugir após Maria assumir o trono, Knox foi se refugiar em Genebra, tornando-se aluno e seguidor da teologia calvinista e reformada. John Knox voltou então para a Escócia em 1559, e recebeu apoio popular para implementar a doutrina reformada, sendo que o Parlamento adotou para a nação a teologia calvinista prescrita por Knox. Nessa ocasião, o líder reformador implementou o Livro da disciplina e posteriormente, o Livro de ordem comum, que definiam a Igreja no modelo presbiteriano e a teologia na doutrina reformada, conforme instruída por Calvino e os teólogos suíços. “Isso também fez com que houvesse grande mudança na educação, pois foram criadas escolas públicas, incluindo-se universidades. Esse trabalho se tornaria um marco para o país, em virtude da disseminação de um forte espírito de independência e democracia.” (Curtis, Lang e Petersen, p. 123-125, 2003). Nesse contexto histórico e teológico, anotamos o destaque do historiador da IPB, Reverendo Alderi Souza Matos: "a Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas que tem em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária. Historicamente, a IPB pertence à família das igrejas reformadas ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Suas origens mais remotas encontram-se nas reformas protestantes suíça e escocesa, no século 16, lideradas por personagens como Ulrico Zuinglio, João Calvino e João Knox. O nome "igreja presbiteriana" vem da maneira como a igreja é administrada, ou seja, através de "presbíteros" eleitos pelas comunidades locais." (p. 9-12, 2007). Ao mesmo tempo em que a Reforma Protestante atualizava de modo distinto na história a autoridade das Escrituras, haviam diferentes visões de interpretação entre os líderes da reforma, especialmente no pensamento distinto entre os "reformadores magisteriais" (que respeitavam as autoridades) e os "reformadores radicais" (revolucionários diante do Estado). Nesse período, surgiu a necessidade de definições "oficiais" que pudessem esclarecer tanto o que pensavam como o que desejavam os reformadores do cristianismo, sendo que, segundo McGrath, "as confissões de fé desempenharam essa função (...) (posto que) em termos gerais, considera-se que os teólogos protestantes reconheciam a existência de três níveis ou categorias de autoridade: 1. As Escrituras. Eram consideradas pelos reformadores magisteriais como a autoridade suprema em matéria de dogma e conduta cristãos. 2. Os credos do cristianismo. Esses documentos, como, por exemplo, os credos Apostólico e Niceno, eram considerados pelos reformadores magisteriais como representativos do consenso da igreja primitiva, bem como interpretações precisas e autorizadas das Escrituras. 3. As confissões de fé. Esses documentos eram tidos como oficiais por determinados grupos integrantes da Reforma. Portanto, o padrão básico adotado pelos integrantes da Reforma era o de reconhecimento das Escrituras como autoridade de caráter primário e universal; dos credos como autoridade de caráter secundário e universal e das confissões de fé como de caráter terciário e local (pelo fato dessas confissões serem consideradas obrigatórias somente por uma denominação ou igreja de determinada região). Na Reforma, a constituição da ala reformada foi um processo complexo que resultou no fato de que várias Confissões - cada qual ligada a uma determinada região - tornaram-se influentes. As seguintes possuem importância especial. Confissão Gálica, França, 1559; Confissão Escocesa, Escócia, 1560; Confissão Belga, Países Baixos, 1561; Trinta e Nove Artigos, Inglaterra, 1563; Segunda Confissão Helvética, Suíça Ocidental, 1566." (Mcgrath, p 109-110, 2005). Conforme Matos e Nascimento, "a Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única norma de fé e conduta é a Bíblia Sagrada. Todavia, em virtude de a Bíblia não apresentar as doutrinas já sistematizadas, adotamos a Confissão de Fé e os Catecismos como exposição do sistema de doutrinas ensinadas na Escritura." (p 67, 2007). REFERÊNCIAS. CURTIS, A. Kenneth, LANG, J. Stephen e PETERSEN, Randy. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo. São Paulo: Editora Vida, 2003. MATOS, Alderi Souza e NASCIMENTO, Adão Carlos. O que todo Presbiteriano inteligente deve saber. Socep Editora, Santa Bárbara d´Oeste, SP, 2007. MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações. SP São Paulo, 2005. MCGRATH, Alister. A Revolução Protestante. tradução Lena e Regina Aranha. - Brasília, DF : Palavra, 2012. Autor. Ivan Santos Rüppell Jr é professor de Teologia e Ciências da Religião nas Faculdades SPS extensão Curitiba e Uninter.

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