Esse texto é um breve resumo com citações e estatísticas do artigo de Guilherme de Carvalho, teólogo e cientista da religião, para o jornal 'A Gazeta do Povo'; "E se a 'crise da religião' não for uma crise da religião?", (17/11/2023). O autor inicia refletindo sobre pesquisa do cientista político Ron Inglehart acerca do 'declínio da religião', que revela um grande desinteresse da população pela religiosidade neste século, algo que nega o pensamento do sociológo Peter Berger, que entendia que o avanço da modernidade não iria prejudicar a religião. Nesse contexto, "Ron Inglehart descobriu que, em todos os países nos quais temos uma desregulamentação das leis e mudança dos costumes nos campos do sexo, fertilidade e família, segue-se um estonteante colapso da religião organizada, em apenas uma geração". A partir daí, Guilherme de Carvalho destaca o que entende ser mais verdadeiro sobre essa 'grande crise da religião'. "A tese de Inglehart é a de que a pertença religiosa está ligada a um tipo de ética de comunidade com regras estritas de engajamento e compromisso.", e quando há abandono ou mudança drástica destas regras, a própria religião enfraquece na sua condição de gerar socialização entre as pessoas. Neste sentido, percebe-se que junto da crise da religião vemos a ocorrência de "uma crise geral da sociabilidade", portanto, para Carvalho, "a crise da religião é tão somente um aspecto da crise da comunidade na contemporaneidade". Evoluindo sobre o tema, Carvalho traz o resultado de uma pesquisa da revista The Atlantic acerca dos níveis de apego relacionais da América, o que de forma resumida apresenta que o 'apego seguro' (que depende dos outros e se deixa depender) está 15% menor, enquanto que os apegos 'evitativos' (que se fecha ao outro e evita a relaçao social) cresceram 56% e o 'apego' desorganizado (que busca intimidade, mas manipula e cria confusões) cresceu 18%. No período de divulgação desta pesquisa, a maior autoridade do sistema de saúde norte-americano, cirurgião geral Vivek Murthy "advertiu sobre o impacto devastador da 'epidemia de solidão e isolamento social nos EUA', junto de um relatório apresentando essa epidemia e "discutindo 'os efeitos curadores da conexão social e da comunidade'. Uma situação em que a fragilidade dos relacionamentos sociais devido "a pobreza de conexões sociais" foi relacionada com o aumento das seguintes enfermidades na humanidade neste século 21: + 29% de doença do coração, + 32% de infarto, + 50% de demência em adultos, + 60% de morte prematura, "além do aumento da depressão, inclusive em 'crianças'. Esses estudos e análises chegaram a seguinte conclusão: "a atual geração de jovens tem agora o dobro de risco de sofrer de solidão do que idosos com mais de 65 anos". As más notícias continuam, pois junto disto tudo, há uma grave 'queda do índice de confiança generalizada no país', sendo que a 'confiança entre as pessoas é um dos maiores indicadores de alto capital social e de associativismo criativo em qualquer sociedade'. Como resultado disto, os norte-americanos não confiam mais uns nos outros e o número de horas em que passam com os amigos diminui junto. Ainda, os números ruins estão presentes em diversos outros aspectos da vida dos americanos, pois o tempo dedicado a vivências sociais junto da família, amigos e outras pessoas tem caído, junto da queda do número de casamentos, enquanto os divórcios aumentam, "bem como o número de pessoas vivendo sozinhas". Nesse contexto, Carvalho anota e reflete que, "como era de se esperar, caiu a frequência à igreja, de 70% em 1999 para 47% em 2020. Será possível que a "crise da religião" não seja, na verdade, da religião?". Até porque trata-se de uma questão mundial, pois a denominada 'epidemia da solidão' é tanto uma queixa geral como ainda, um tema de estudo sem números comprováveis, e em meio à essa situação, a revista Lancet decidiu estudar o tema e publicar o artigo, "A solidão como questão de saúde". Neste tema, o Brasil encontra-se em situação grave, pois em pesquisa junto a 28 países, estamos no penúltimo lugar, com 52% de reclamações sobre solidão e 46% de sofrimento mental, enquanto a média mundial é de 41%. Nesse contexto de crise relacional e aumento da solidão, percebe-se que há um certo 'apagão sexual' ocorrendo na geração Z, de 18 a 24 anos, que pratica menos sexo que as gerações antecedentes; o que ocorre também com outras gerações, sendo algo já anotado na Inglaterra, numa realidade diagnosticada como "uma tendência internacional", em que cada vez se pratica menos sexo. Alguns motivos seriam a pornografia e relações virtuais tomando espaço das pessoais, muito entretenimento e também o cansaço, com as mulheres dedicadas às carreiras profissionais cada vez praticando menos sexo. Esse apagão sexual está junto da ocorrência de um grave "apagao nas amizades - menos encontros face a face com amigos", com jovens entre 15 a 24 anos sofrendo mais que as outras gerações, já que o tempo com amigos caiu 70% neste século 21, sendo que "entre 2012 e 2018 a solidão adolescente dobrou ao mesmo tempo em que o smartphone se universalizava". O aspecto destacado como uma das razões desta realidade é a mudança das relações sociais, em que atualmente se busca o "perfil moral W.E.I.R.D, que é basicamente sentimentalista e individualista, afastando-se da psicologia moral mais conservadora e moderada, que, segundo o psicólogo social Jonathan Haidt, tem uma direção sociocêntrica". Em meio a tudo isso, Guilherme de Carvalho retoma seu ponto inicial, entendendo que a denominada 'crise da religião talvez não seja, fundamentalmente, a crise da religião... talvez a questão seja outra: à medida que a composição do Estado de bem-estar social, entretenimento tecnológico e individualismo expressivo torna as pessoas mais autocentradas e menos sociais, a religião perde seu apelo". "A cultura do Self é incompatível com o cristianismo e, por isso, com a felicidade humana. A morte solitária dos modernos não é um mistério inexplicável, mas o resultado previsível do abandono da fé". E para concluir e ainda desafiar os cristãos, observe que, se estes dados e proposições, análises e resultados estiverem corretos, eis o modo em que "comunidades religiosas autênticas e cheias de vida podem se tornar, no futuro, verdadeiras ilhas de saúde mental em um mar de solidão e isolamento." Portanto, a questão fundamental não é se a religião irá sobreviver, ou não, mas sim se conseguirá promover a "sua obra de catalisar comunidades, a obra do amor. Se a igreja buscar amar, em vez de apenas existir, não viverá ela para sempre?". (Guilherme de Carvalho, artigo: "E se a "crise da religião" não for uma crise da religião?").
Autor, resumo. Ivan S Rüppell Jr é professor, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana, atuando na gestão de parcerias de ação social e evangelização.
Esse texto tem objetivo didático na disciplina de Símbolos de Fé no Seminário Presbiteriano do Sul extensão Curitiba. Daí a utilização de resumos e citações mais longas no interesse de oferecer aos alunos o conteúdo apropriado para o entendimento necessário aos debates e explanações em aula. CONTEÚDO de Aula: CONTEXTO HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO DOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. TEOLOGIA REFORMADA. "Trata-se da teologia oriunda da Reforma (calvinista) em distinção à luterana. O designativo "reformada" é preferível ao calvinista... considerando o fato de que a teologia reformada não provém estritamente de Calvino." (Maia, p. 11, 2007). OS CREDOS E A REFORMA. "Os credos da Reforma são as confissões de fé e os catecismos produzidos nesse período ou sob sua inspiração teológica. Os séculos 4 e 5 foram para a elaboração dos credos o que os séculos 16 e 17 foram para a feitura das confissões e dos catecismos. A razão parece evidente: na Reforma, as...
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