sexta-feira, 19 de maio de 2023

O AUMENTO DA SOLIDÃO E A CRISE DA RELIGIÃO NO SÉC. 21.

Esse texto é um breve resumo com citações e estatísticas do artigo de Guilherme de Carvalho, teólogo e cientista da religião, para o jornal 'A Gazeta do Povo'; "E se a 'crise da religião' não for uma crise da religião?", (17/11/2023). O autor inicia refletindo sobre pesquisa do cientista político Ron Inglehart acerca do 'declínio da religião', que revela um grande desinteresse da população pela religiosidade neste século, algo que nega o pensamento do sociológo Peter Berger, que entendia que o avanço da modernidade não iria prejudicar a religião. Nesse contexto, "Ron Inglehart descobriu que, em todos os países nos quais temos uma desregulamentação das leis e mudança dos costumes nos campos do sexo, fertilidade e família, segue-se um estonteante colapso da religião organizada, em apenas uma geração". A partir daí, Guilherme de Carvalho destaca o que entende ser mais verdadeiro sobre essa 'grande crise da religião'. "A tese de Inglehart é a de que a pertença religiosa está ligada a um tipo de ética de comunidade com regras estritas de engajamento e compromisso.", e quando há abandono ou mudança drástica destas regras, a própria religião enfraquece na sua condição de gerar socialização entre as pessoas. Neste sentido, percebe-se que junto da crise da religião vemos a ocorrência de "uma crise geral da sociabilidade", portanto, para Carvalho, "a crise da religião é tão somente um aspecto da crise da comunidade na contemporaneidade". Evoluindo sobre o tema, Carvalho traz o resultado de uma pesquisa da revista The Atlantic acerca dos níveis de apego relacionais da América, o que de forma resumida apresenta que o 'apego seguro' (que depende dos outros e se deixa depender) está 15% menor, enquanto que os apegos 'evitativos' (que se fecha ao outro e evita a relaçao social) cresceram 56% e o 'apego' desorganizado (que busca intimidade, mas manipula e cria confusões) cresceu 18%. No período de divulgação desta pesquisa, a maior autoridade do sistema de saúde norte-americano, cirurgião geral Vivek Murthy "advertiu sobre o impacto devastador da 'epidemia de solidão e isolamento social nos EUA', junto de um relatório apresentando essa epidemia e "discutindo 'os efeitos curadores da conexão social e da comunidade'. Uma situação em que a fragilidade dos relacionamentos sociais devido "a pobreza de conexões sociais" foi relacionada com o aumento das seguintes enfermidades na humanidade neste século 21: + 29% de doença do coração, + 32% de infarto, + 50% de demência em adultos, + 60% de morte prematura, "além do aumento da depressão, inclusive em 'crianças'. Esses estudos e análises chegaram a seguinte conclusão: "a atual geração de jovens tem agora o dobro de risco de sofrer de solidão do que idosos com mais de 65 anos". As más notícias continuam, pois junto disto tudo, há uma grave 'queda do índice de confiança generalizada no país', sendo que a 'confiança entre as pessoas é um dos maiores indicadores de alto capital social e de associativismo criativo em qualquer sociedade'. Como resultado disto, os norte-americanos não confiam mais uns nos outros e o número de horas em que passam com os amigos diminui junto. Ainda, os números ruins estão presentes em diversos outros aspectos da vida dos americanos, pois o tempo dedicado a vivências sociais junto da família, amigos e outras pessoas tem caído, junto da queda do número de casamentos, enquanto os divórcios aumentam, "bem como o número de pessoas vivendo sozinhas". Nesse contexto, Carvalho anota e reflete que, "como era de se esperar, caiu a frequência à igreja, de 70% em 1999 para 47% em 2020. Será possível que a "crise da religião" não seja, na verdade, da religião?". Até porque trata-se de uma questão mundial, pois a denominada 'epidemia da solidão' é tanto uma queixa geral como ainda, um tema de estudo sem números comprováveis, e em meio à essa situação, a revista Lancet decidiu estudar o tema e publicar o artigo, "A solidão como questão de saúde". Neste tema, o Brasil encontra-se em situação grave, pois em pesquisa junto a 28 países, estamos no penúltimo lugar, com 52% de reclamações sobre solidão e 46% de sofrimento mental, enquanto a média mundial é de 41%. Nesse contexto de crise relacional e aumento da solidão, percebe-se que há um certo 'apagão sexual' ocorrendo na geração Z, de 18 a 24 anos, que pratica menos sexo que as gerações antecedentes; o que ocorre também com outras gerações, sendo algo já anotado na Inglaterra, numa realidade diagnosticada como "uma tendência internacional", em que cada vez se pratica menos sexo. Alguns motivos seriam a pornografia e relações virtuais tomando espaço das pessoais, muito entretenimento e também o cansaço, com as mulheres dedicadas às carreiras profissionais cada vez praticando menos sexo. Esse apagão sexual está junto da ocorrência de um grave "apagao nas amizades - menos encontros face a face com amigos", com jovens entre 15 a 24 anos sofrendo mais que as outras gerações, já que o tempo com amigos caiu 70% neste século 21, sendo que "entre 2012 e 2018 a solidão adolescente dobrou ao mesmo tempo em que o smartphone se universalizava". O aspecto destacado como uma das razões desta realidade é a mudança das relações sociais, em que atualmente se busca o "perfil moral W.E.I.R.D, que é basicamente sentimentalista e individualista, afastando-se da psicologia moral mais conservadora e moderada, que, segundo o psicólogo social Jonathan Haidt, tem uma direção sociocêntrica". Em meio a tudo isso, Guilherme de Carvalho retoma seu ponto inicial, entendendo que a denominada 'crise da religião talvez não seja, fundamentalmente, a crise da religião... talvez a questão seja outra: à medida que a composição do Estado de bem-estar social, entretenimento tecnológico e individualismo expressivo torna as pessoas mais autocentradas e menos sociais, a religião perde seu apelo". "A cultura do Self é incompatível com o cristianismo e, por isso, com a felicidade humana. A morte solitária dos modernos não é um mistério inexplicável, mas o resultado previsível do abandono da fé". E para concluir e ainda desafiar os cristãos, observe que, se estes dados e proposições, análises e resultados estiverem corretos, eis o modo em que "comunidades religiosas autênticas e cheias de vida podem se tornar, no futuro, verdadeiras ilhas de saúde mental em um mar de solidão e isolamento." Portanto, a questão fundamental não é se a religião irá sobreviver, ou não, mas sim se conseguirá promover a "sua obra de catalisar comunidades, a obra do amor. Se a igreja buscar amar, em vez de apenas existir, não viverá ela para sempre?". (Guilherme de Carvalho, artigo: "E se a "crise da religião" não for uma crise da religião?"). Segue em complemento, breve reflexão sobre os relacionamentos amorosos da humanidade na atualidade, pois mesmo que os cristãos saibam que não devem "amar" o mundo, no entanto, a cobiça dos olhos está sempre mais perto e constante, cada vez mais diversa e inebriante, já que tudo e mais um pouco está a um toque do celular. E como a marca da nossa raça é estarmos numa situação existencial gravemente carente, bem, tudo que for colocado diante de nós, logo será uma "boa" possibilidade pra acalmar o coração vazio e o corpo ansioso. É só dar uma olhada na quantidade diversa de experiências sensuais que a moçada e todo mundo tem praticado cada vez mais cedo neste século 21. Tudo saído de nossa "carência raiz" profunda e da bastante humana "visão nutella" sensual, que só produz mesmo é solidão da alma e confusão relacional. Daí que os cristãos precisam avançar o sinal da religiosidade e buscar nas Escrituras o conhecimento bendito disto tudo, sendo algo que nossos adolescentes e a juventude precisam aprender o quanto antes, melhor. Com todo o conhecimento científico clássico e boa autoridade familiar cristã, lógico. Inicialmente, devemos apresentar a oração do Pai Nosso o quanto antes para as novas gerações, especialmente o pedido maior de nosso tempo; "Não deixa eu cair na tentação". E aqui, valem dois toques: - se os meninos e os rapazes cristãos continuarem transformando meninas e moças em produtos virtuais e buracos físicos de suas necessidades, bem, eles serão os maiores responsáveis pelo crescimento da solidão feminina - cada vez mais em fuga da presença masculina. Pois não há mulher de qualquer idade que consiga aguentar a opressão que hoje os homens chamam de relação, íntima. De outro lado, quanto mais meninas donas do pedaço vão sendo formatadas nas redes masculinizadas e escolas sociais sem identidade, igualmente os homens jovens seguirão perdidos na hora de achar uma menina pra abraçar como namorada, sua. Daí surge a necessidade de orientar os cristãos sobre princípios de sexualidade, cada vez mais cedo, observando sempre a condição intelectual e sensivel, física e emocional da idade deles. Até porque a crise da religião está vinculada com a crise relacional que impulsiona a juventude e todas as gerações para a solidão, enquanto esquecemos que o padrão bíblico do relacionamento íntimo entre homem e mulher orienta o encontro completo de uma só carne, consciência e alma, sentimentos e pensamentos, enquanto não nega o abraço inicial que se torna intimidade total numa relação simples movida pelo contato outrora chamado simplesmente de amor. É isso! Vamos logo ensinar os meninos e meninas a amar Jesus, o próprio corpo e principalmente o próximo. Com respeito e sensibilidade, antes que seja mais tarde do que já ficou. Oremos, bastante! Autor. Ivan S Rüppell Jr é professor, advogado e ministro licenciado da Igreja Presbiteriana, atuando na gestão de parcerias de ação social e evangelização.

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