terça-feira, 2 de maio de 2023

SÍMBOLOS de Fé da IPB. RESUMO. Aspectos principais do Conteúdo. Parte I.

Disciplina SÍMBOLOS DE FÉ DA IPB. Seminário Presbiteriano do Sul - extensão Curitiba. Aspectos e Temas principais do Conteúdo. PARTE I. ITEM 1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS SÍMBOLOS DE FÉ DA IPB. O termo religioso "credo" origina da palavra em latim: "credo" e significa "Eu Creio", que é como inicia o Credo Apóstolico. O termo se refere ao modo como se deseja definir uma específica "declaração de fé", sendo que, o mais famoso credo cristão, segundo McGrath, "sintetiza os principais pontos da fé cristã, os quais são compartilhados por todos os cristãos." (2005, p 54). Devido a essa aceitação geral e ampla que designa a existência e aceite de um "credo", essa expressão não deve ser utilizada para referir "declarações de fé" representativas do pensamento particular de determinadas denominações religiosas; sendo que estas serão assim chamadas, como "confissões". Nesse contexto, e no destaque de nosso autor, "a confissão pertence a uma denominação e inclui dogmas e ênfases especificamente relacionados a ela; o "credo" pertence a toda a igreja cristã e inclui nada mais, nada menos do que uma declaração de crenças, as quais todo cristão deveria ser capaz de aceitar e observar." Neste sentido, "o "credo" veio a ser considerado como uma declaração concisa, formal, universalmente aceita e autorizada dos principais pontos da fé cristã." (2005, p 54). ITEM 2. O DESENVOLVIMENTO INICIAL E O PENSAMENTO TEOLÓGICO CRISTÃO NA PATRÍSTICA. (*conteúdo extraído do livro "O Cristianismo e a Civilização Ocidental"). “O período patrístico representa um dos mais empolgantes e criativos da história do pensamento cristão... Todos os principais ramos da igreja cristã – incluindo as igrejas anglicanas, ortodoxa oriental, luterana, reformada e católica romana – consideram o período patrístico como um marco decisivo na evolução da doutrina cristã. Cada uma dessas igrejas se considera como uma continuação, uma extensão e, naquilo que for necessário, uma crítica às visões dos escritores da igreja primitiva.” O símbolo e representação teológica de unidade conceitual que identifica as mais diversas igrejas e denominações que são consideradas pertencentes ao Cristianismo no decorrer da história recebeu sua forma fixa no período patrístico, ainda no decorrer do quarto século, através da finalização do conteúdo do “Credo Apostólico”. Essa declaração contendo os elementos essenciais da fé cristã tornou-se o conteúdo a ser afirmado por todos aqueles que desejavam ser batizados a fim de se tornarem cristãos nas cerimônias de recepção de novos convertidos à religião do Cristianismo, as quais começaram a ser organizadas desde os primeiros movimentos da Igreja primitiva. ITEM 4. SÍMBOLOS DE FÉ. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ACERCA DAS CONFISSÕES DE FÉ PROTESTANTES. O Período de consolidação da doutrina Protestante. Ao mesmo tempo em que a Reforma Protestante atualizava de modo distinto na história a autoridade das Escrituras, as diversas visões diferentes de interpretação entre os líderes da reforma também se tornava uma realidade, especialmente no pensamento distinto entre os "reformadores magisteriais" (que respeitavam as autoridades) e os "reformadores radicais" (mais revolucionários diante do Estado). Nesse contexto, surgiu a necessidade de definições "oficiais" que pudessem esclarecer tanto o que pensavam como o que desejavam os reformadores do cristianismo, sendo que, segundo McGrath, "as confissões de fé desempenhararm essa função (...) (posto que) em termos gerais, considera-se que os teólogos protestantes reconheciam a existência de três níveis ou categorias de autoridade: 1. As Escrituras. Eram consideradas pelos reformadores magisteriais como a autoridade suprema em matéria de dogma e conduta cristãos. 2. Os credos do cristianismo. Esses documentos, como, por exemplo, os credos Apostólico e Niceno, eram considerados pelos reformadores magistrais como representativos do consenso da igreja primitiva, bem como interpretações precisas e autorizadas das Escrituras. (os credos eram considerados textos secundários em relação às Escrituras, e serviam para delimitar o individualismo da reforma radical) A autoridade desses credos era reconhecida tanto por protestantes quanto por católicos, bem como por vários elementos pertencentes à corrente dominante da Reforma. 3. As confissões de fé. Esses documentos eram tidos como oficiais por determinados grupos integrantes da Reforma. Assim, as igrejas luteranas primitivas reconheciam a autoridade da Confissão de Augsburg (1530) (embora nem todos os grupos protestantes entendessem desta forma)... Para exemplificar, pode-se mencionar o fato de que as confissões de fé específicas foram elaboradas por alguns grupos. Algumas estavam vinculadas à Reforma em determinadas cidades - por exemplo, a Primeira Confissão da Basiléia (1534) e a Confissão de Genebra (1536). Portanto, o padrão básico adotado pelos integrantes da Reforma era o de reconhecimento das Escrituras como autoridade de caráter primário e universal; dos credos como autoridade de caráter secundário e universal e das confissões de fé como de caráter terciário e local (pelo fato de essas confissões ser consideradas obrigatórias somente por uma denominação ou igreja de determinada região). Na Reforma, a constituição da ala reformada foi um processo complexo que resultou no fato de que várias Confissões - cada qual ligada a uma determinada região - tornaram-se influentes. As seguintes possuem importância especial. 1559, Confissão Gálica, França. 1560, Confissão Escocesa, Escócia. 1561, Confissão Belga, Países Baixos. 1563, Trinta e Nove Artigos, Inglaterra. 1566, Segunda Confissão Helvética, Suíça Ocidental." (Mcgrath, p 109-110, 2005). NOSSOS SÍMBOLOS DE FÉ. "A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única norma de fé e conduta é a Bíblia Sagrada. Todavia, em virtude de a Bíblia não apresentar as doutrinas já sistematizadas, adotamos a Confissão de Fé e os Catecismos como exposição do sistema de doutrinas ensinadas na Escritura." (p 67). As autorizadas Confissões de Fé protestantes vieram a se consolidar através de movimentos "pós-reforma", como destaca McGrath: "Tanto a Reforma protestante quanto a católica, foram sucedidas por um período de consolidação da teologia, em ambos os movimentos. No seio do protestantismo, luterano e reformado (ou "calvinista"), iniciou-se o período conhecido como "ortodoxia", caracterizado por sua ênfase em normas e definições doutrinárias. (...) O luteranismo e o calvinismo eram, sob muitos aspectos, bastante semelhantes. Ambos alegavam ser evangélicos e rejeitavam, de modo geral, os mesmos aspectos centrais do catolicismo medieval. Entretanto, eles precisavam se diferenciar." (p 112 -114, 2005). Nesse contexto, anotamos que "a Confissão de Fé e os Catecismos são conhecidos, historicamente, como Símbolos de Westminster. Eles foram elaborados pela Assembleia de Westminster (1643-1648), convocada pelo Parlamento inglês para elaborar novos padrões doutrinários, litúrgicos e administrativos para a Igreja da Inglaterra. Para se entender as circunstâncias da formulação desse importante documento, é preciso relembrar a história da Reforma Inglesa." (Matos e Nascimento, p 67, 2007). ANTECEDENTES históricos. No ano de 1534 o Rei Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica de Roma e através do Ato de Supremacia tornou-se chefe da Igreja da Inglaterra. Nascia a Igreja Anglicana separada da Igreja Católica, porém, com celebrações e doutrinas semelhantes, até que em 1547 subiu ao trono o Rei Eduardo VI, sendo que o Arcebispo de Cantuária Thomas Cranmer organizou dois documentos orientados pelo pensamento calvinista: o Livro de Oração Comum e os Trinta e Nove Artigos. Nesse período, outras ações ocorreram com propósito reformista, até a morte do rei Eduardo em 1553. Maria Tudor (Maria sanguinária) assumiu o trono decidida a unir-se novamente com a Igreja Católica de Roma, o que levou à perseguição e morte de Cranmer e outros líderes da Reforma, enquanto os religiosos protestantes fugiam da Inglaterra para outros países, sendo que muitos deles foram residir em Genebra, debaixo da influência de João Calvino. Até que em 1558 Maria Tudor faleceu e a nova Rainha Elizabete retornou com o Ato de Supremacia, o que propiciou o retorno dos protestantes pra Inglaterra. (p 67-68). A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER. Carlos I sucedeu Tiago e reinou entre 1625 até 1649, sendo aconselhado pelo Arcebispo de Cantuária William Laud, adepto da uniformidade religiosa e teologia arminiana, em oposição ao movimento puritano e pensamento calvinista. Ambos atuaram a partir de 1637 para controlar os presbiterianos da Escócia para que viessem a obedecer o governo e celebração próprios da Igreja da Inglaterra (sistema episcopal), momento em que os presbiterianos da Escócia juraram defender o sist presbiteriano, vindo a entrar em guerra diante do Rei. Assim, Carlos I tentou eleger um parlamento na Inglaterra para ficar mais forte na guerra diante da Escócia, porém a população inglesa elegeu um parlamento puritano, ocasião em que o Rei promoveu nova eleição, sendo que o novo Parlamento eleito teve mais representação puritana do que o anterior. Nesta ocasião, logo que o Rei agiu para dissolver o Parlamento uma segunda vez, os parlamentares entraram em guerra com o Rei, dando início à guerra civil inglesa. (p 69) "Entre outras coisas, esse Parlamento puritano voltou sua atenção para a questão religiosa. Fazia quase um século que os puritanos vinham insistindo que a Igreja da Inglaterra tivesse uma forma de governo, doutrinas e culto mais puros. Assim sendo, o Parlamento convocou a "Assembléia de Teólogos de Westminster", composta de 121 dos ministros mais capazes da Inglaterra, além de 20 membros da Câmara dos Comuns e 10 membros da Câmara dos Lordes. Todos os ministros, exceto dois, eram da Igreja da Inglaterra. Praticamente todos eram puritanos, calvinistas." (Matos e Nascimento, p 69, 2007). O PURITANISMO. "Um dos mais importantes estilos teológicos associados ao mundo de língua inglesa surgiu na Inglaterra, no final do século XVI. Provavelmente, o puritanismo seja mais bem definido como uma versão da ortodoxia reformada que enfatizava de maneira especial os aspectos empírico e pastoral da fé. Os escritos dos principais teólogos puritanos, William Perkins (1558-1602), William Ames (1576-1633) e John Owen (1618-83), sofreram claramente forte influência de Beza, particularmente em relação a seus ensinamentos a respeito da extensão do sacrifício de Cristo e da soberania divina nas questões da providência e eleição." (Mcgrath, p 117, 2005). CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER - Origem e Composição, de Chad B. Van Dixhoorn. Segundo nosso autor, "O Breve Catecismo de Westminster é um dos mais amados e bem utilizados de todos os Catecismos da Reforma, e o documento mais famoso da Assembleia que se reuniu na Abadia de Westminster de 1643 a 1649. A Confissão de Fé de Westminster, em seu original e nas suas formas modificadas, tornou-se "de longe o símbolo doutrinário mais influente na história da América Protestante." (no destaque de Sidney E Ahlstrom). Segundo nosso autor, o Catecismo Maior não tem sido percebido e utilizado da mesma forma e valor. Assim, o propósito do livro do autor é buscar recuperar a importância e valor do Catecismo Maior, sendo que iremos utilizar seu conteúdo para saber mais sobre a feitura da Confissão de Fé e Catecismos. Segundo o autor, "em 1642, o mundo foi virado de cabeça para baixo (pelo menos na Grã-Bretanha). Os nobres ingleses, os barões, os cavaleiros, os cavalheiros, os cidadãos, os burgueses, os plebeus de todos os tipos, e os ministros do evangelho, pegaram todos em armas contra o Rei Carlos I." Reclamavam das condições sociais e do autoritarismo imperial do rei, sendo que "muitos eram puritanos que desejavam uma mudança no culto e na teologia", algo que o Rei Carlos I e sua esposa rainha eram contrários, de forma que perto do ano de 1643 os grupos parlamentares perceberam que estavam frágeis nas batalhas diante do Rei, e por isso pediram ajuda aos protestantes da Escócia, que aceitaram ajudar os cidadãos ingleses desde que assumissem os princípios de um documento denominado "Solene Liga e Aliança", com seis itens: "O primeiro ponto da Aliança estabelecia que as igrejas em ambos os países deveriam ser reformadas em "doutrina, culto, disciplina e governo". Para atingir essa unidade, a Assembleia do Parlamento inglês, designada no início de 1643, deveria criar uma "confissão de fé, uma forma de governo da Igreja, um diretório de culto" e eles acrescentaram um diretório de "catequese." Neste sentido, o objetivo primordial da feitura do catecismo desenvolvido em Westminster "foi a unidade religiosa, que era também o objetivo de cada um dos seus documentos." Ainda que já existissem outros documentos religiosos à época, e de grande valor ao pensamento protestante, se fazia necessário redigir "um documento confessional para os propósitos ecumênicos", pelos quais se pretendia unir as Igrejas de todo Reino Unido. Neste contexto, além da Confissão de Fé, a assembleia orientou que os teológos escrevessem catecismos, sendo que o preparo de um texto menor e breve foi considerado como importante, posto que seu conteúdo seria mais geral e portanto, seria aprovado com mais facilidade. O primeiro esboço foi rejeitado e ainda em 1643 um grupo da assembleia se voltou para organizar o catecismo, até que outras questões acabaram impedindo seu desenvolvimento. Finalmente, em 1646 a Confissão de Fé foi concluída e enviada para debate na Assembleia, sendo que no início de 1647 houve a decisão pelo preparo de dois catecismos, cada um adequado a seu propósito; confome descrito pelo teólogo Richard Vines, em proposição para que "a Comissão do Catecismo preparasse um esboço de dois catecismos baseados na Confissão de Fé, e nas questões do Catecismo já iniciado." O princípio basilar para a escrita dos catecismos é de que a Assembleia "decidiu não ter nenhum outro assunto teológico dentro (dos catecismos) além daqueles já estabelecidos na Confissão"; pois o fundamento era de que somente as doutrinas da Confissão deveriam estar descritas nos Catecismos - "Os Catecismos, portanto, seriam uma condensação da Confissão." Dessa forma, a Assembleia orientou a feitura de dois catecismos, sendo "um mais exato e abrangente", enquanto o segundo deles "seria mais fácil e breve para os iniciantes". Assim, em meados de outubro de 1647 o Catecismo Maior estava pronto, enquanto que o Breve Catecismo foi finalizado em dezembro. Sobre o uso dos catecismos nas celebrações da igreja, "os ministros da Assembleia de Westminster consideraram que o pregador não devia pregar a partir de uma proposição, ou argumento, mas apenas das próprias Escrituras. Por mais importantes que fossem os catecismos, os teólogos de Westminster não quiseram seguir a prática das igrejas reformadas do continente, que pregavam com base no Catecismo de Heidelberg." Nesse contexto, entende-se que o objetivo principal da feitura dos catecismos não foi fornecer "mensagens" bíblicas prontas aos pregadores, mas sim, promover "unidade de crença" e "instrução mais detalhada na fé cristã." Os teológos escoceses entendiam que os cristãos amadurecidos das igrejas iriam receber do catecismo maior o conteúdo sólido e profundo que necessitavam em sua caminhada e discipulado. Uma característica distinta do Catecismo Maior de Westminster estava em sua organização e formato: "A Assembleia teve o cuidado de fazer com que todas as perguntas fossem sentenças completas em si mesmas, sem depender, para o seu sentido, da pergunta anterior; eram, na verdade, aforismos (sentença breve) inconfundíveis, contendo sucintamente os fundamentos da religião cristã". Esse aspecto foi considerado importante e inovador, já que grande parte dos catecismos daquele período "requeriam que o usuário memorizasse em ordem tanto a pergunta quanto a resposta a fim de obter o sentido das doutrinas bíblicas do catecismo", sendo necessário saber diversas questões para se entender o que uma delas apresentava acerca da doutrina. Outro aspecto distinto dos Catecismos foi o de que estes não se dedicaram a desenvolver o conteúdo do Credo Apostólico, "porque o credo, embora fosse bíblico, não tinha sido extraído da Bíblia", enquanto um texto direto. Essa decisão permitiu que o objetivo de feitura dos catecismos se consolidasse, a fim de que toda doutrina apresentada tivesse as Escrituras como fonte, enquanto também buscava superar uma fragilidade do credo, que é o pouco conteúdo sobre a vida de Cristo; posto que, afinal, a história da vida de Jesus é a própria e completa realização da redenção dos homens: "A vida de Cristo tem mutissímo a ver com a nossa salvação: Ele gastou a vida cumprindo toda a justiça; Ele observou a Lei que o primeiro Adão transgrediu. É por causa da obediência ativa de toda a Sua vida que Deus o Pai nos vê como justos em Cristo." A FÉ CRISTÃ, ESTUDOS NO BREVE CATECISMO, de Thomas Watson. "A Body of Divinity (em nossa edição, A Fé Cristã - Estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster) é uma das mais preciosas e inigualáveis obras dos puritanos... Watson foi um dos escritores mais objetivos, profundos, sugestivos e elucidativos dentre os célebres teológos que fizeram da era puritana o período dourado da literatura evangélica. Há uma união feliz entre a boa doutrina, a profunda experiência e a sabedoria prática evidentes em todas as suas obras." Thomas Watson foi reitor da paróquia Saint Stephen, no centro de Londres, atuando como pastor por 16 anos, enquanto viu a igreja crescer, sendo que o pregador foi reconhecido pelo valor de suas mensagens "instrutivas e espirituais". Foi uma época confusa e bastante perigosa, pois ainda que Watson e outros pregadores puritanos houvessem sido leais ao Estado e ao Rei, o fato de defenderem uma doutrina bíblica de pureza, os posicionou como inimigos diante do ato de uniformidade que buscava enquadrar novamente a igreja da Inglaterra numa doutrina contrária ao pensamento reformado. (Ato de Uniformidade da Rainha Elizabeth, de 1559, definindo o uso do Livro de Orações nas celebrações e a participação semanal dos cidadãos ingleses nas igrejas, valorando a Igreja Anglicana como denominação única e oficial na Inglaterra) " SERMÃO DE WATSON (breve introdução). Firmes e Fundamentados na Fé. "Se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes..." (Colossenses 1.23). "Considerando que, no próximo domingo, iniciarei uma instrução na doutrina com a igreja... Este sermão está dividido em duas partes: 1. É dever dos cristãos se firmarem na doutrina, e 2. É dever dos cristãos se fundamentarem na doutrina. 1. É DEVER DOS CRISTÃOS SE FIRMAREM NA DOUTRINA. É obrigação dos cristãos serem firmes na doutrina da fé. O apóstolo afirma: "Ora, o Deus de toda graça..., ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar" (1 Pedro 5.10). Essas palavras ensinam que os cristãos não devem ser semelhantes a meteoros no céu, mas como as estrelas fixas. O apóstolo Judas fala sobre "estrelas errantes" (Jd 13). São chamadas estrelas errantes porque, como Aristóteles diz: "elas vão para cima e para baixo vagueando por várias partes do céu; e por não serem feitas do material celeste do qual as estrelas fixas são, mas apenas uma emanação dele, essas estrelas geralmente caem na terra." Assim são aqueles que não são firmes na fé. Uma hora ou outra, eles farão como as estrelas cadentes, perderão a firmeza e vaguearão de uma a outra opinião. Agirão impetuosamente à semelhança da tribo de Rúben (Gn 49.4); como um navio sem lastro, levado por qualquer vento de doutrina. O francês Leodore Beza (1519-1603), sucessor de Calvino, escreve sobre Belfectius de quem a religião mudava como a lua. Os arianos, por sua vez, a cada ano mudavam a sua fé. Pessoas assim não são pilares no templo de Deus, mas caniços movidos para todas as direções. O apóstolo chama tal atitude de "heresias destruidoras" (2 Pe 2.1). Uma pessoas pode ir para o inferno tanto por heresia quanto por adultério. Não ser firme na fé é querer julgamento. Se as mentes deles não fossem volúveis, não mudariam tão rápido de opinião. A razão de tal atitude é a falta de substância. Como penas sopradas para todos os lados, assim também são os cristãos sem fé." Da obra: HARMONIA DAS CONFISSÕES REFORMADAS. Organizado por Joel R. Beeke e Sinclair B. Ferguson. O contexto histórico destas Confissões de Fé origina do período em que as igrejas reformadas desenvolveram Sete Confissões, as quais foram comparadas por nossos autores a fim de que seu conteúdo fosse apresentado em sua singularidade e harmonia para conhecimento dos estudantes e fiéis. "As igrejas reformadas dos séculos 16 e 17 produziram várias coleções de confissões reformadas ortodoxas que diferenciavam a fé reformada tanto do Catolicismo Romano como de outros grupos de igrejas protestantes." Conforme vimos anteriormente, as Confissões de Fé formam um terceiro grupo de anúncio e declaração da Palavra de Deus para os Cristãos protestantes, sendo que a Bíblia (Escrituras) é o documento primário, o Credo Apostólico é o documento secundário e as Confissões são o documento terceiro, sendo que as Confissões de Fé Cristãs Reformadas limitam o seu texto ao conteúdo das Escrituras, enquanto buscam fundamentar e esclarecer a interpretação bíblica estabelecida por essa vertente cristã oriunda do século 16, a partir da Reforma Protestante. Neste grupo de confissões reformadas que serão base da comparação de harmonia desenvolvida pelo livro base desse texto e aula, temos: as confissões da "família suiça", que são a Primeira Confissão Helvética (1536), a Segunda Confissão Helvética (1566), e a Fórmula de Consenso Helvética (1675). A "família anglo-escocesa", que contém a Confissão da Escócia (1560), com os Trinta e Nove Artigos (1563), a Confissão de Fé de Westminster (1646-47) e os Catecismos Maior e Breve de 1647. E ainda, a denominada "família germânico-holandesa", que apresenta três formas: a Confissão de Fé Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1563) e os Cânones de Dort (1618-19). Sendo que, "as sete mais adotadas pelas várias denominações reformadas... são as Três Formas de Unidade, a Segunda Confissão Helvética e a Confissão e os Catecismos de Westminster." O propósito dos organizadores da comparação e apresentação da visão singular destas Confissões, é de que "esta harmonia permitirá fácil acesso ao conteúdo das grandes confissões reformadas e também ajudará os cristãos holandeses reformados, os húngaros reformados, os ingleses presbiterianos e outros cristãos reformados a apreciar mais profundamente as confissões desses diversos grupos (...) A beleza deste livro é que ele ressalta a harmonia entre as confissões reformadas, a despeito da diversidade de suas inúmeras tradições históricas." (todas as citações anteriores são do autor, Joel R. Beeke). INTRODUÇÃO HISTÓRICA ÀS CONFISSÕES DE FÉ REFORMADAS. A CONFISSÃO BELGA tem seu nome dado a partir dos países baixos, atualmente denominados Holanda e Bélgica, sendo que seu autor foi o Pastor Reformado Guido de Brès. "Durante o século 16, as igrejas reformadas na Holanda sofreram forte perseguição sob o comando de Filipe II da Espanha, partidário da Igreja Católica Romana. Em 1561, de Brès preparou esta confissão em francês como uma defesa para os crentes reformados perseguidos nos Países Baixos que formaram as assim chamadas "igrejas sob a cruz". (...) A confissão foi moldada a partir da Confissão Gaulesa, uma confissão reformada francesa de 1559 que, por sua vez, se baseava no modelo de Calvino... a Confissão Belga segue o que se tornou a ordem doutrinária tradicional da teologia sistemática reformada: as doutrinas a respeito de Deus (teologia, artigos 1-11), do homem (antropologia, 12-15), de Cristo (cristologia, artigos 16-21), da salvação (soteriologia, artigos 22-26), da igreja (eclesiologia, artigos 27-35) e dos últimos acontecimentos (escatologia, artigo 37)." Essa Confissão Belga carrega um forte apelo de unidade ao apresentar suas declarações como pensamento de toda uma comunidade, tendo sido enviada ao rei Filipe II com a promessa de que os fiéis cristãos que a seguiam tinham o propósito de seguir retamente as leis e obedecer as autoridades, sendo algo que não encontrou lugar no coração das lideranças da Espanha, culminando com o martírio do autor de Brès em 1567. "A Confissão Belga foi prontamente recebida pelas igrejas reformadas na Holanda depois de sua tradução para o holandês em 1562." O professor de teologia Zacarias Ursino desenvolveu o CATECISMO DE HEIDELBERG sob orientação do princípe Frederico III, no interesse de preparar um conteúdo "reformado com o objetivo de instruir os jovens e orientar pastores e professores", sendo considerado um "catecismo de beleza e impacto incomuns, uma reconhecida obra-prima", o qual acabou aprovado pelo Sínodo de Heidelberg no ano de 1563, tendo recebido outras três edições alemãs, além de ter sido traduzido ao holândes. "As 129 perguntas e respostas do Catecismo de Heidelberg estão divididas em três partes, padronizadas de acordo com a Epístola aos Romanos... as perguntas 3-11 se referem à experiência do pecado e à miséria (Rm 1-3, 20); as perguntas 12-85 se referem à redenção em Cristo e à fé (Rm 3.21-11.36), juntamente com uma longa exposição do Credo dos Apóstolos e dos sacramentos: as perguntas 86-129 abordam a verdadeira gratidão pelo livramento dado por Deus (Rm 12-16), basicamente por meio de um estudo dos Dez Mandamentos e da Oração Dominical... seu conteúdo é mais subjetivo que objetivo, mais espiritual que dogmático... (tendo) sido chamado "o livro de conforto" para os cristãos." O Catecismo de Heidelberg foi traduzido para o holândes em 1563 e foi aceito grandemente em toda Holanda, sendo uma base de orientação para as pregações dos ministros holandeses, vindo a ser aprovado nos "Sínodos de Wesel (1568), de Emden (1571), de Dort (1578), de Haia (1586) e de Dort (1618-19), que oficialmente o adotaram como a segunda das Três Formas de Unidade", além de ter sido traduzido posteriormente para nações de toda Europa e línguas diversas da África e Àsia. "A SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA é de importância muito maior (que a primeira)", tendo surgido de um testemunho pessoal escrito por Heinrich Bullinger no ano de 1562. A cidade de Zurique estava acometida de grande peste, e Bullinger dedicou-se a revisar o documento diante da morte próxima, que não houve para ele, sendo a ocasião em que Frederico III solicitou uma confissão reformada, vindo a receber do líder protestante uma cópia da confissão, a qual Frederico utilizou como defesa na Dieta Imperial de 1566, devido a críticas de Lutero em alguns posicionamentos do príncipe. "Depois de algumas revisões, numa conferência em Zurique no mesmo ano, a confissão foi aceita por Berna, Biel, Genebra, os Grisons, Muhlhausen, Schaffhaunsen e St. Gall. Depois, foi amplamente aprovada na Escócia, na Hungria, na Polônia e em vários outros lugares." Esta confissão é um "manual compacto da teologia reformada"... tendo como cenário a edição definitiva das Institutas de Calvino (1559) e a Contra-Reforma, reunida em Trento (1545-1563)... tendo como ponto de partida as Escrituras, ela avança pelas ideias da teologia sistemática, abordando questões características da Reforma e de Calvino: a pregação de que a Palavra de Deus é a Palavra de Deus (cap 1); Cristo é o espelho no qual devemos contemplar a nossa eleição (cap 10); a providência e a predestinação recebem tratamentos separados; o corpo e o sangue de Cristo não são recebidos carnalmente, mas espiritualmente, ou seja, por intermédio do Espírito Santo...". A Segunda Confissão Helvética tornou-se um "valioso testemunho das obras e da fé de Heinrich Bullinger", tendo sido traduzida para o inglês, holandês, polônes, italiano, turco, árabe etc; sendo percebida como "uma declaração madura da teologia reformada para a segunda metade do século 16". CÂNONES DE DORT (1618-1619). "O Sínodo de Dort foi realizado para resolver uma série de controvérsias nas igrejas holandesas, iniciada pelo surgimento do Arminianismo. Jacob Armínio... divergia da fé reformada em vários pontos...". A reunião das igrejas reformadas da Holanda na cidade de Dordrecht entre os anos de 1618 e 1619 recebeu vinte e sete delegados de oito países, que se juntaram aos sessenta e dois representantes da Holanda. Armínio viveu até 1609, e em 1610 alguns de seus defensores apresentaram suas postulações na assembleia da Holanda; ensinando uma eleição embasada na fé posterior dos homens que seria base para a decisão anterior de Deus sobre eles, um caráter universal da salvação em Cristo, a condição do livre arbítrio numa visão de depravação parcial da humanidade, a condição do homem resistir diante da graça, e ainda, a possibilidade de ocorrer uma queda do estado de graça. "Eles solicitaram a revisão dos padrões doutrinários das igrejas reformadas e a proteção do governo aos pontos de vista arminianos." As discussões acerca da controvérsia entre arminianismo e calvinismo estavam conduzindo a Holanda para um conflito civil de grandes proporções, até que a assembleia deliberou para que um Sínodo discutisse a questão. "O Sínodo, então, desenvolveu os cânones, que rejeitaram totalmente o Protesto de 1610 e estabeleceram a doutrina reformada dos pontos debatidos com base nas Escrituras. Esses pontos, conhecidos como os Cinco Pontos do Calvinismo são: eleição incondicional, redenção limitada, depravação total, graça irresistível e a perseverança dos santos (...) Eles podem ser resumidos do seguinte modo: (1) A eleição incondicional e a fé salvadora são dons soberanos de Deus. (2) Conquanto a morte de Cristo seja suficiente para expiar os pecados de todo o mundo, sua eficácia salvadora é restrita aos eleitos. (3,4) Todas as pessoas são tão completamente pervertidas e corrompidas pelo pecado que não podem exercer o livre-arbítrio em favor de sua salvação, nem efetuar nenhuma parte da salvação. Em soberana graça, Deus nos chama irresistivelemente e regenera o eleito para uma vida nova. (5) Deus graciosamente preserva o redimido para que ele persevere até o fim... Exposto com simplicidade, o assunto principal dos cânones é a graça soberana concebida, a graça soberana merecida, a graça soberana necessitada e aplicada e a graça soberana preservada." Observe que o contexto doutrinário do surgimento dos Cânones de Dort tornam esse documento uma declaração de fé única em seu conteúdo e características, pois surgiu como conclusão de um julgamento e abordou somente os temas doutrinais em discussão referente ao pensamento de Armínio e de Calvino. "Ao todo, os cânones contém 59 artigos de exposição, e 34 rejeições de erros (...) (os Delegados da Assembleia) se uniram num culto de ação de graças para louvar a Deus pela preservação da doutrina da graça soberana entre as igrejas reformadas." DOUTRINA REFORMADA EM COMPARAÇÃO - Harmonia das Confissões de Fé Reformadas: (exemplo do conteúdo das Confissões de Fé). Tema: A santa trindade. 1. Confissão Belga: "Deus é um em essência, porém distinguido em três pessoas. De acordo com essa verdade, e com essa Palavra de Deus, nós acreditamos num só Deus, que é de uma só essência, na qual há três pessoas, realmente, verdadeiramente e eternamente distintas, conforme suas propriedades incomunicáveis, ou seja, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. 2. Catecismo de Heidelberg: P. 25: Por que você fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo se há apenas uma divina essência... R: Porque Deus se revelou desse modo na sua Palavra, que essas três pessoas distintas são o único, verdadeiro e eterno Deus. 3. Segunda Confissão Helvética: "Cremos e ensinamos que o mesmo Deus infinito, uno e indiviso é um ser inseparavelmente e sem confusão, distinto em pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e, assim como o Pai gerou o Filho desde a eternidade, o Filho foi gerado de modo indescritível, e o Espírito Santo verdadeiramente procede de um e de outro, desde a eternidade e, assim, deve ser adorado como ambos (...) Enfim, aceitamos o Credo dos Apóstolos, porque ele nos comunica a verdadeira fé." 4. Confissão de Fé de Westminster: "Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. O Pai não é de ninguém - não é gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho." 5. Breve Catecismo de Westminster: "Há três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e estas três são um Deus, da mesma substância, iguais em poder e glória." 6. Catecismo Maior de Westminster: "Na Divindade há três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; essas três pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas suas propriedades pessoais." REFERÊNCIA. Beeke, Joel R e Ferguson, Sinclair B. Harmonia das confissões de Fé Reformadas. Edit Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2006 (páginas 9 a 12, 20-21). Van Dixhoorn, Chad B. Catecismo Maior de Westminster. Origem e composição. Edit Os Puritanos. Recife, PE, 2012. (páginas 7 a 16). Watson, Thomas. A Fé Cristã. Estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster. Cultura Cristã, São Paulo SP, 2009. (pg 7 a 15). Matos, Alderi de Souza e Nascimento, Adão Carlos. O que todo presbiteriano inteligente deve saber. Edit Socep, Santa Barbára do Oeste SP, 2007. McGrath, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução à teologia cristã. Shedd Publicações. São Paulo SP, 2005. RUPPELL JR, Ivan Santos e TURETTI, Marli. O Cristianismo e a Civilização Ocidental, Edit Inter-saberes, Curitiba PR, 2020. Autor. Professor Ivan Rüppell Jr.

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