quarta-feira, 10 de maio de 2023

Teologia Apocalíptica. Análise em duas obras. SPS, extensão Curitiba, 2023.

DISCIPLINA Teologia Apocalíptica, Seminário Presbiteriano do Sul, extensão Curitiba. Resumo e citações para uso em aula. Livro: Panorama do Novo Testamento, Robert H GUNDRY, Edições Vida Nova, 1998, São Paulo SP. INTRODUÇÃO GERAL. "O Apocalipse (termo grego que significa "desvendamento") contém profecias mais extensas sobre o futuro do que qualquer outra porção do Novo Testamento. Essas profecias projetam luz sobre o triunfo escatológico de Cristo sobre as forças do Anti-Cristo deste mundo - a começar pela tribulação e atingindo seu clímax na parousia e chegando ao término com a plena concretização do reino de Deus - tudo para decisivo encorajamento dos crentes que enfrentam o antagonismo de uma sociedade incrédula." (p. 407). DESENVOLVIMENTO. Capítulo 3. História Política e Intertestamentária e do Novo Testamento. O Período Romano. "O século VII A.C. viu a fundação de Roma, e no século V A.C. houve a organização de uma forma republicana de governo ali sediada (...)"; sendo que nos dois últimos séculos antes do século I de Cristo, o Império Romano alcançou vitórias e conquistas territoriais na África do Norte, extremo oriente do Mediterrâneo e Gália, até que após a vitória sobre o Egito, Augusto se fez imperador de Roma em 31 A.C., e "dessa maneira, pois, Roma passou de um período de expansão territorial para outro, de paz, o que se tornou conhecido como Pax Romana. A província da Judéia interrompeu essa tranquilidade mediante grandes revoltas, que os romanos esmagaram nos anos de 70 a 135 D.C."; com destaque para como a estabilidade do império romano facilitou a comunicação da mensagem cristã neste período da história. (p. 11). Os seguintes imperadores romanos são citados no Novo Testamento: Augusto, 27 A.C. até 14 D. C.; Tibério, 14 a 37 D.C.; Calígula, 37 a 41 D.C.; Cláudio, 41 a 54 D.C.; Nero, 54 a 68 D.C.; Vespasiano, 69 a 79 D.C., e, "Domiciano (81-96 D.C.), cuja perseguição contra a Igreja provavelmente serviu de pano-de-fundo para a escrita do Apocalipse, como encorajamento para os cristãos oprimidos." (p. 13). Roma definia o modo em que "governantes nativos vassalos" atuavam na Palestina, de forma que Pilatos governou e agiu como Juiz no julgamento de Jesus, enquanto os governantes Félix e Festo atenderam reivindicação do Apóstolo Paulo; "e quando o governador Floro pilhou o tesouro do templo, isso foi o estopim da revolta dos judeus, em 66-73 D.C.", com destaque para o modo em que sacerdotes judeus e componentes do Sinédrio (Tribunal) organizavam o cotidiano social do povo judeu, até que a derrubada do templo e destruição de Jerusalém em 70 D.C. vieram a encerrar a adoração sacrificial judaica. A partir daí lideranças judaicas se reuniam na cidade mediterrânea de Jamnia, enquanto na Palestina o Imperador Hadriano edificou um templo para Júpiter no local do antigo templo de Jerusalém, ocorrendo uma revolta judaica ao redor do ano 132 D.C. sem sucesso, com os judeus sendo expulsos e proibidos de entrar em Jerusalém, de forma que o Estado Judaico somente voltou a existir no século 20, no ano de 1948. (p. 16). Capítulo 3. O Ambiente Religioso do Novo Testamento. "A religião oficial de Roma adotou grande parte do panteão e da mitologia gregos. As divindades romanas vieram a ser identificadas com os deuses gregos (Júpiter com Zeus, Vênun com Afrodite, e assim por diante) (...) Seguindo a prática desde há muito firmada de atribuir atributos divinos aos governantes, o senado romano lançou a ideia do culto ao imperador, ao deificar, após a morte, a Augusto e a subsequentes imperadores que porventura tivessem servido bem como tais. (...) Domiciano (81-96 D.C.) foi o primeiro a tomar providências sérias e generalizadas para forçar a adoração de sua pessoa. A recusa dos cristãos em participarem do que passou a ser tido como um dever patriótico, como uma medida tendente a unificar o preito de lealdade ao imperador, como uma divindade, provocou uma perseguição que foi crescendo de intensidade." (p. 38-39). Capítulo 20. Apocalipse. Ele Vem Vindo! (p. 407). A escrita provável do Apocalipse seria o reinado de Domiciano, entre 81 a 96 D.C., um imperador que não ordenou grandes perseguições, porém, "a sua tentativa de pôr em vigor a adoração ao imperador foi um presságio das violentas perseguições que se seguiriam. O Apocalipse teve por desígnio, portanto, preparar os crentes para a resistência." (...) "O estilo típico da literatura apocalíptica empregado no Apocalipse exibe uma linguagem exaltadamente simbólica na descrição de suas visões. Essas visões retratam o final da história, quando mal houver atingido seu limite máximo e Deus tiver feito intervenção para dar início ao Seu reino, para submeter os ímpios ao julgamento e para galardoar os justos. E tudo isso é exposto não a fim de satisfazer mera curiosidade quanto ao futuro, mas a fim de encorajar o povo de Deus a não fraquejar diante de um mundo dominado pela iniquidade", com João utilizando expressões do AT, particularmente de Daniel, Ezequiel e Isaías. As surpreendentes figuras apresentadas no livro causam estranheza nos leitores atuais, "mas elas transmitem aos leitores as proporções cósmicas dos eventos descritos de maneira muito mais eficaz do que jamais poderia tê-lo feito a linguagem prosaica." (p. 409-410). 4 Olhares de Interpretação do Apocalipse: "O ponto de vista idealista despe a linguagem simbólica de qualquer valor como predição (...) reduz a profecia a um quadro simbólico sobre o conflito contínuo entre o bem e o mal, entre a Igreja e o paganismo, com o triunfo eventual do cristianismo. (...) O ponto de vista preterista (...) limita o Apocalipse à mera descrição das perseguições contra o cristianismo movidas pela antiga Roma (...) mediante a destruição do império romano e a vindicação dos cristãos quando da volta de Cristo, supostamente iminente (como Jesus não voltou), os preteristas procuram redimir o resíduo de significação da obra para os tempos modernos, (abraçando a visão) idealista. (...) O ponto de vista histórico interpreta o Apocalipse como uma simbólica narrativa prévia da história da Igreja, a contar da era apostólica até ao retorno de Cristo e ao juízo final. (...) o quebrar dos selos representaria a queda do império romano, os gafanhotos (...) as invasões muçulmanas, a besta apontaria para o papado (de acordo com os reformadores Protestantes), e assim por diante. (...) O ponto de vista futurista reconhece que o Apocalipse teve começo motivado pela pressão exercida por Roma sobre a Igreja, durante o primeiro século cristão, e que o livro falava diretamente àquela situação; mas também assegura que o volume maior da obra descreve um período futuro angustioso e caótico, que recebe o título de "tribulação", seguido de perto pelo retorno de Cristo, pela inauguração do reino de Deus, pelo julgamento final e pelo estado eterno. (...) O ponto de vista aqui adotado é primariamente o futurista, mas sem esquecer que João estava escrevendo não somente para o fim desta era, mas também para os cristãos a ele contemporâneos e, de fato, para os crentes de cada geração. Em particular, o conflito entre o cristianismo e os césares corresponde à peleja entre o povo de Deus durante a tribulação (quer a Igreja ou outra porção desse povo) e o Anticristo, o qual governará sobre o redivivo império romano. O Apocalipse retém sua relevância de modo perene por causa da possibilidade que tem cada geração sucessiva de ver o cumprimento do livro em suas predições." (p. 410-412). DISCIPLINA Teologia Apocalíptica. Comentário do Novo Testamento. Simon KISTEMAKER. Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004. Tradução de Valter Martins. São Paulo, SP. Resumo com citações extensas, no objetivo didático. "O título grego deste livro é Apokalypsis (aquilo que está sendo descoberto); os leitores, porém, podem sentir que não há muito a ser revelado. O Livro do Apocalipse não parece concretizar o que seu título promete, confundindo seus leitores com todas as imagens, figuras e números que ali se encontram {...} Quando examinamos cuidadosamente este livro, começamos a compreender que ele não é uma mera composição humana semelhante aos apocalipses de I Enoque (2 Esdras no OT Apocrypha) e 2 Baruque. No Apocalipse, o Deus Triúno está revelando sua Palavra ao leitor, isto é, Deus mesmo está falando ao seu povo. Isso se faz evidente nas palavras introdutórias: "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu" (1.1), e nas cartas às sete igrejas. Ali ouvimos a voz de Jesus, que conclui cada carta com as palavras: "o Espírito diz às igrejas" (2.7, 1, 17, 29, 3.6, 13, 22). O último capítulo registra a voz de Jesus (22.7, 12-20), a voz do Espírito (22.17) e a advertência divina para que não se acrescente ou subtraia nada deste livro (22.18-19). {...} Todo o Livro do Apocalipse chama a atenção para seu compositor primário, Deus. Ele é o artista divino, o principal arquiteto. Este é um volume divinamente construído no qual Deus exibe a obra de sua mão." {p. 14-15). A. PADRÃO (Estrutura). 1. Os Números. A utilização de números e o seu significado chama atenção na leitura do livro do Apocalipse, com grande valor ao número sete, que "deve ser entendido como uma idéia que expressa totalidade ou completude". Jesus envia cartas para sete igrejas, no entanto, se formos avaliar a situação geográfica das igrejas destinatárias das cartas e outras existentes, veremos que há igrejas que são omitidas, como a de Colossos, Heliópolis e Trôade, o que orienta o entendimento de que "Jesus se dirige às igrejas de todos os tempos e todos os lugares. O número sete simboliza completude. O número sete antecede muitos substantivos, inclusive espíritos, castiçais de ouro, estrelas, castiçais, selos, chifres, olhos, anjos, trombetas, trovões, coroas, cabeças, pragas, taças, montes e reis. Além disso, há sete mil pessoas mortas por causa de um terremoto (11.13) {...} Há duas passagens que registram cânticos de louvor entoados por uma hoste celestial, ambas com sete atributos: 5.12 e 7.12. Há sete beatitudes no livro, 1.3, 14.13, 16.15, 19.9, 20.6, 22.7 e 22.14, além de outros elementos, como "o termo a(s) palavra(s) de Deus, (que) aparece exatamente sete vezes (1.2, 9; 6,9; 17.17; 19.9, 13; 20.4)". (p. 15-16). "O número quatro representa as quatro criaturas viventes, quatro anjos, quatro cantos da terra, quatro ventos e quatro anjos atados junto do Eufrates. Categorias de quatro permeiam todo o Apocalipse." - 5.9; 5.13; 6.8; 5.8, 16.18; 9.21; 10.11; 18.22. "O número quatro descreve a criação divina: os quatro cantos da terra, isto é, as quatro direções do vento (7.1; 20.8). Deus é o governante de e em sua criação, o que é evidente à luz do uso da expressão relevante "aquele que vive para todo o sempre", que ocorre quatro vezes (4.9, 10; 10.6; 15.7)." "O número três aparece com frequência: três quartos de cevada, três anjos, três pragas de fogo, fumaça, e enxofre; três espíritos imundos; a grande cidade foi dividida em três partes; três portões de cada lado: leste, sul, norte, oeste. A série de três se refere à Deidade com o tríplice clamor das criaturas viventes, dizendo: "Santo, santo, santo" (4.8); e uma descrição do poder de Deus que era, que é e que há de vir (4.8; ver 1.4,8)." "Dez é o número de completude no sistema decimal. Este número no Apocalipse se refere a dez dias de perseguição (2.10); uma descrição do dragão com dez chifres (12.3); a besta que sai do mar com dez chifres e dez coroas (13.1); e a besta escarlate que tinha dez chifres (17.3, 7, 12, 16). Como dez é o número que se relaciona com os servos e atividades de Satanás, o número doze descreve os eleitos de Deus das doze tribos (7.5-8); a mulher, simbolizando a Igreja, com doze estrelas em sua cabeça (12.1); e a nova Jerusalém com doze portões, doze anjos, doze tribos de Israel (21.12)." A Nova Jerusalém tem 12 fundamentos em que estão inscritos os nomes dos 12 apóstolos, medindo 12 estádios, e ao lado do rio e fluindo do trono, vemos a árvore da vida que gera 12 colheitas de frutos (22.2). (p. 16-17). Há, ainda, mais 5 tópicos do Padrão e Estrutura: 2. Contraste: "Apocalipse é um livro cheio de polaridades: Cristo versus Satanás; luz versus trevas; vida versus morte; amor versus ódio; céu versus inferno. Por todo o livro, este contraste vem a lume em todos os detalhes. João retrata a Trindade como Pai, Filho e Espírito Santo; por comparação, a trindade de Satanás é o diabo, a besta e o falso profeta (...); 3. Ênfase: "Quando realçamos algo em impresso, usamos o ponto de exclamação ou escrevemos em itálico. Essas convenções, porém, não eram disponíveis nos dias dos escritores bíblicos. Empregavam a técnica de repetição para chamar a atenção do leitor. (18.2; 18.10, 16, 19)." 4. Repetição: "O princípio de repetição visando à ênfase e clareza é também evidente na descrição da fuga da mulher para o deserto durante 1260 dias, para um lugar que Deus lhe havia preparado (Ap. 12.1-6). Nos últimos oito versículos lemos novamente que ela fugiu para o deserto, em um lugar que lhe fora preparado por um tempo, tempos e metade de tempo (12.14). João apresenta duas descrições do mesmo evento, pois o lugar que Deus lhe preparara é o deserto, e a extensão de tempo é a mesma: 1260 dias igual a 42 meses (11.2, 3) ou 3 anos e meio." 5. Paralelos: "!Todo o livro do Apocalipse se acha permeado de paralelos que são apresentados em múltiplos de sete. Há sete cartas às igrejas da Ásia Menor; há sete selos seguidos de sete trombetas e concluídos com sete taças. Começando com as cartas às sete igrejas, observamos paralelos em sua estrutura. Cada carta consiste de sete partes: (...)." 6. Divisão: "O paralelismo expresso nos três grupos (selos, trombetas e taças) sugere que o escritor não está apresentando uma sequência cronológica, mas sim, diferentes aspectos dos mesmos eventos." 7. Conclusão. "O último livro da Escritura é único em sua estrutura. Revela um autor humano a quem Deus inspirou para escrever o Apocalipse." Os eventos anunciados por João devem ser entendidos como aspectos distintos de uma mesma sequência, de modo que há melhor e mais profundo entendimento a cada novo grupo de ilustrações. "Não é João, mas Deus, quem põe em relevo sua composição com extraordinário cuidado. Apocalipse revela precisão e clareza inigualáveis com respeito à sua estrutura, ao uso de números e figuras, e à escolha de palavras. O último livro da Bíblia demonstra um Deus que age pessoalmente, do começo ao fim." (p. 14 - 24). Autor. Ivan S Rüppell Jr, Professor de Ciências da Religião e Teologia.

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